segunda-feira, 8 de novembro de 2010

ÍCONE, SÍMBOLO E ÍNDICE

Maria José Palo e Maria Rosa D. Oliveira em seu livro Literatura Infantil: Voz de Criança fazem referência a três termos usados na teoria semiótica, mostrando já para o leitor o campo teórico de seus estudos (um deles, pelo menos). É que a Semiótica tem sido mais usada em análise de textos onde predominam diferentes registros da linguagem - verbal (linguístico) e não-verbal (não-linguístico). No caso da literatura infantil, devido a presença do texto escrito e dos desenhos ilustrativos, a utilização desse dispositivo teórico se justifica.

Em relação ao índice, símbolo e ícone, vale lembrar que eles fazem parte do nosso cotidiano. Aliás, foi observando o cotidiano que os teóricos das linguagens passaram a criar nome e conceitos para explicar as experiências textuais do dia-a-dia.

Charles Pierce deu o nome índice para uma situação em que um signo, portanto elemento dotado de significante e significado, indicaria uma outra coisa e entre os dois haveria uma relação de causalidade. Ex.: quando olhamos para o céu e vemos nuvens cinzas, dizemos que vai chover.  As nuvens cinzas são indícios de chuvas. No entanto, em outras situações mais abertas faz-se necessário que haja sentido para a cultura. Por exemplo: a presença de uma pessoa em uma festa, sem ser convidada, pode ser indício de problemas porque de acordo com as convenções sociais dos membros envolvidos, ir a uma festa implica em ser convidado.   Portanto, o índice pode estar relacionado diretamente a experiência natural ou sociocultural do falante da língua.

Na literatura infantil, como podemos aplicar esse conhecimento?

Vejamos: a literatura, por ter um grau de figuratividade maior do que outros textos, tende a operar com o conceito de índice, símbolo e ícone. Como estamos falando do índice, vamos ver como isso acontece. Tomemos um conto de fada conhecido por todos vocês: Chapeuzinho Vermelho. O leitor, ao ver a protagonista - uma meninA - em uma floresta sozinha, inevitavelmente prevê indício de perigo porque para o leitor ocidental, educado em uma cultura patriarcal, a mulher representa um ser que requer a "proteção" de uma figura masculina e, sendo criança, de um adulto. Chapeuzinho Vermelho possui as duas marcas de dependência criada pela sociedade patriarcal: a de ser mulher e criança. Se ao lermos o conto, sentimos esse efeito, é porque internalizamos o código. Mas esse indício também tem a ver com o símbolo da floresta - aqui já vamos emendar com o conceito de símbolo - que representa perigo.

A floresta é o espaço não-domesticado, estranho, onde os animais selvagens habitam. É símbolo de perigo, de mistério (fazendo uma incursão pela memória, lembrem-se de que o vampiro, de Crepúsculo- o filme, quando se mostra perigoso para a jovem, é numa floresta. Eles estão próximos à escola, mas a revelação de que ele é um vampiro, se dá na floresta). Assim, o símbolo é um signo que remete a um significado denotativo expresso pela cultura, sedimentando-se na memória cultural. É o que acontece com a maçã: símbolo do pecado, do amor, da feminilidade, etc. Observe que não há nada em si na maçã que possa lembrar pecado, amor ou feminilidade. É uma convenção social.

O ícone é uma imagem que mantém uma relação de semelhança ou propriedade com o objeto representado. Um ícone apresenta pelo menos um traço em comum com este objeto. Acontece com as fotografias, as pinturas, as charges, etc. Pensando com base na definição acima, podemos dizer que as personagens dos desenhos animados, por exemplo, são ícones das pessoas, já que guardam traços de similitude. Mesmo no texto literário, as descrições das personagens, as aproximam da nossa humanidade, o que poderia ser interpretado com uma relação icônica.

Alguma dúvida?

4 comentários:

  1. Adorei, super explicado. super criativo, os exemplos são ótimos. Parabéns! Texto objetivo e explicativo. Adorei mesmo. Entendi tudo.

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  2. Que bom! É tudo que a gente quer, fazer uma boa mediação. Obrigada.

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