sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Reflexões Feministas

Faz tempo que não venho aqui, mas é por falta de conexão e de ideias.

Mas hoje fiquei pensando na relação entre a mulher, gênero e a indústria de consumo. Esta conexão só foi possível por causa das reflexões que estava fazendo sobre a minha própria vida, quando pensava nas coisas que eram recicladas pela minha mãe. Isto me levou a uma hipótese (que talvez alguém já tenha transformado em tese) de que as razões que levaram as mulheres ao espaço público para o mundo do trabalho estão relacionadas ao consumo. Explico-me melhor: as mulheres, mães em geral, diante das dificuldadades financeiras, transformavam e criavam produtos que acabavam servindo para outros fins, diferentes daqueles originais.

Esta atitude certamente não é interessante para uma sociedade que se alimenta da venda compulsiva de produtos industrializados e não da transformação destes, na maioria manufaturados.

Em casa, com uma máquina de costura, uma caixa de linhas e agulhas, as mulheres se viravam para economizar. Vivi os anos 70, mas meus pais foram contemporâneos de duas guerras que tiveram efeitos mundiais: a 2ª Guerra Mundial (1945) e a Guerra do Vietnã (1968). Nesta época, a escassez fez com que as pessoas não desperdiçacem, ecomizassem, transformassem o que pudessem, pois não havia nem dinheiro, nem o que comprar.  Além disso, a pobreza era avassaladora. Não se deixava comida no prato e nem se jogava fora. Tinha que colocar o necessário, se possível repetir, mas nunca jogar fora. Os interruptores dos ambientes deveriam estar desligados se não houvesse uma pessoa neles. Deste modo, as mulheres controlavam as finanças, monitoravam o consumo de água e energia em casa e buscavam suprir as necessidades domésticas através de trabalhos manuais, principalmente a costura: na mão ou na máquina, bordando, tricotando ou fazendo crochê. Lembro-me particularmente de uma cortina que fizemos com plástico e caroço de tonteira (uma árvore que, segundo crença popular, quem estivesse tonto poderia ser curado se ficasse debaixo dela).

A mulher passou para a esfera pública para alimentar o mercado, mas, também, para eliminar uma concorrente ideológica, já que a customização implica em transformação, em aproveitamento de um material para dar origem a outro, isto é, um produto possível de ser adquirido gratuitamente ou a preços módicos. Certamente esta técnica oferece não apenas um novo produto, mas propõe uma nova maneira de lidar com as coisas. No lugar de jogar fora (interessante para o consumo, para os negócios) aproveita-se, transforma-se, cria-se.

As mulheres no mercado de trabalho alavancaria o comércio, mas também tiraria de circulação qualquer concorrência que viesse a confrontar o sistema vigente.

Assim, a indústria une-se à voz das feministas para dizer que elas venceram, elas podem agora trabalhar: as mulheres agora podem ter uma profissão, um emprego. Mas essa falsa concessão de poder é regulada pela voz patriarcal que diz: "Você vai trabalhar porque é interessante para nós, no entanto continuará presa à casa e aos sentimentalismos". Desta forma, é enganoso o discurso emancipatório das mulheres, já que, do ponto de vista das emoções, continuam reguladas para serem amorosas, mães, dedicadas... aliás a dedicação é bem vista pelos gananciosos, ávidos por profissionais que possam exercer as suas funções com perfeccionismo e, preferencialmente, sem reclamar.

A dupla jornada da mulher resulta dessa conjuntura, da apropriação do discurso feminista, customizando-o para que atendesse aos interesses patriarcais. Por isso, é difícil uma posição categórica e generalizante sobre a condição da mulher hoje, pois se elas agora podem ter uma profissão e atuar nela, por outro continuam responsáveis pela casa. Esta situação tem sido valorizada por meio de um falacioso discurso de empoderamento da mulher, pois ela agora é multifuncional, como se isso fosse um grande elogio. Talvez a palavra mais apropriada fosse multiexplorada. Assim como uma máquina que pode fotocopiar e imprimir, as mulheres podem alavancar a economia e se responsabilizar pelo trabalho da casa. A Mulher Maravilha não é mais aquela que disfarça a sua identidade atuando ora como secretária, ora como defensora da justiça. A sua dupla identidade agora é revelada e aceita: ela é dona-de-casa, médica, professora, advogada, engenheira, psicóloga... ops, mas e a defensora da justiça?

sábado, 17 de novembro de 2012

Sugestões em Literatura Infantil

Conforme havia prometido, segue abaixo alguns livros sobre literatura infantil e outros que foram citados no curso de extensão Literatura Infantil:

Estudos:

Com a Palavra o Ilustrador, (org.) Ieda de Oliveira - livro rico em análises sobre a ilustração no livro infantil.
Em Busca dos Contos Perdidos, Mariza B. T. Mendes - trata das personagens femininas em Charles Perrault.
Literatura Infantil Brasileira, Leonardo Arroyo
O que é Literatura, Lígia Cadermatori
Literatura Infantil: Voz da Criança, Maria José Palo
Gramática da Fantasia, Gianni Rodari
A Imagem nos livros infantis, Graça Ramos

Outros:

Cultura Popular na Idade Moderna, Peter Burke - trata da relação entre cultura popular e a burguesia emergente. Importante para entender como a literatura infantil tem suas raízes na cultura popular e como esta cultura foi importante para a nova ordem social.
Teoria Literária, Jonathan Culler - discute a própria identidade da literatura.

Literários:

Não Era Uma Vez..., Vários autores, ilustrado por Mariana Massarani - Trata-se de retextualizações dos contos de fadas feitos por escritoras(es) da América Latina.
O Ogro da Rússia, Victor Hugo
Chapeuzinho Amarelo, Chico Buarque
Chapeuzinho Vermelho, Irmãos Grimm
Chapeuzinho Vermelho, Charles Perrault

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Literatura Infantil e Feminismo

Como havia prometido, segue abaixo algumas sugestões de livros de literatura infantil que podem ser analisados de uma perspectiva feminista com abordagem de gênero:

1. O Menino Nito, Sonia Rosa
2. Uma Estrada junto ao Rio, Marina Colasanti
3. Chapeuzinho Amarelo, Chico Buarque
4. Quem tem Medo de Dizer Não, Ruth Rocha
5. Dona Baratinha, Ana Maria Machado
6. Pena de Pato e Tico-Tico, Ana Maria Machado
7. Mariana do Contra, Rose Sordi
8. Felpo Filva, Eva Furnari
9. Mamãe Bela, Mamãe Fera, Marta Lagarta

Em breve, posto mais alguns.

Curso de Extensão Literatura Infantil

Em breve, postarei a relação de livros citados durante o curso.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

QUESTIONÁRIOS I E II

Atividade com base no livro Literatura infantil: voz de criança, de Maria José Palo e Maria Rosa Oliveira
Menino Maluqinho, de Ziraldo

1. Resuma o primeiro capítulo, A literatura e o literário infantil, de Palo e Oliveira.
2. Que questão do primeiro capítulo norteará os demais?
3. Qual a diferença entre função estética e função utilitário-pedagógica?
4. Quais as três espécies de figura apresentadas pelas autoras? Qual a importância delas na literatura infantil?
5. No capítulo 3, as autoras tratam da criança enquanto personagem. Faça uma síntese desse capítulo e exemplifique de que forma o processo de inversão ocorre nos textos e quais os possíveis efeitos no leitor ao se encontrar com personagens que agem diferentemente das funções tradicionais. Quais as situações tradicionais de gênero na literatura infantil clássica?
6. No capítulo 4, Discursos e Vozes Narrativas, as autoras destacam a oralidade, a voz narrativa, o riso e o avesso e os jogos sonoros na literatura infantil. A partir do livro de Marta Lagarta, Mamãe Bela, Mamãe Fera, identifique os aspectos mencionados por Oliveira e Palo.
7. Com base no livro Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque, mostre como acontece a estratégia de inversão da narrativa e qual o seu propósito.
8. “Na literatura relativa à Lingüística Textual, é freqüente apontar-se como um dos fatores de textualidade a referência - explícita ou implícita - a outros textos, tomados estes num sentido bem amplo (orais, escritos, visuais - artes plásticas, cinema - , música, propaganda etc.) A esse “diálogo” entre textos dá-se o nome de intertextualidade.” (Cristina Mota Maia). Com base nesta definição de intertextualidade, analise de que maneira ela acontece nas produções feitas para as crianças.

9. Leia o texto abaixo e analise com base em qualquer um dos conceitos (pode ser mais de um) de Palo e Oliveira.

A Formiga
Composição: Vinicius de Moraes / Paulo Soledade

As coisas devem ser bem grandes
Pra formiga pequenina
A rosa, um lindo palácio
E o espinho, uma espada fina
A gota d'água, um manso lago
O pingo de chuva, um mar
Onde um pauzinho boiando
É navio a navegar
O bico de pão, o corcovado
O grilo, um rinoceronte
Uns grãos de sal derramados,
Ovelhinhas pelo monte

10. O que você entende por eixo de similaridade e contiguidade? O que Palo e Oliveira consideram mais importante para a literatura infantil e quais as razões?


Literatura e Educação

1.      Quais os principais problemas apontados por Cademartori ao tratar da literatura infantil?

2.      Para a autora, o que caracteriza a literatura infantil?

3.      Qual a relação entre texto e imagem na literatura infantil?

4.      Ligia Cademartori ensina o leitor a escolher os livros de literatura infantil. Quais os critérios estabelecidos pela autora para que se cumpra a seleção dos livros? Você sugeriria algum outro? Comente.

5.      Quais as referências históricas mencionadas pela autora e quais as razões de apresentá-las como acontecimentos importantes para a literatura infantil?

6.      Cademartori faz incursões linguísticas sobre a forma da criança e do adulto perceberem a língua. Discorra sobre essas incursões. Você tem um exemplo prático sobre esta questão para relatar?

7.      Com base nas reflexões de Cadermatori e nas suas também, elabore uma história para o público infantil.

P.S.: o livro de Maria José Palo e Maria José Oliveira, Literatura Infantil: Voz de Criança, encontra-se neste blog em uma das postagens. Procurem através da caixa de busca disponível no lado direito deste blog.

sábado, 15 de setembro de 2012

Produção de Cartazes Escolares

Este é um tipo de reflexão que envolve profissionais das áreas de Letras e Artes Plásticas. Na condição de professora da área de Letras, sinto-me motivada a falar um pouco deste gênero textual, muito usado em sala de aula, mas pouco respeitado, já que a sua confecção se dá quase que intuitivamente pelos estudantes em geral.

Com base nas minhas experiências, deixo aqui a minha contribuição e espero que seja útil.

Como qualquer gênero textual, o cartaz escolar atende a um propósito comunicativo. Em geral, eles são feitos para registrar e divulgar os conhecimentos sobre algum assunto na escola, por isso são afixados do lado externo da sala de aula. O cartaz tem um papel fundamental na aprendizagem do aluno porque o estimula a trabalhar com a linguagem verbal e não-verbal, porém nem sempre os estudantes são orientados para isso.

Antes de elaborar um cartaz, deve-se, a meu ver, responder a algumas questões:

1) O que se quer com este cartaz?
2) Para quem será este cartaz? Qual o público?
3) O que espero da reação das pessoas ao lerem o cartaz?

Com base nas questões acima, deve-se refletir sobre:

1) O cartaz foi feito para materializar estudos? As pessoas leriam? Seria o veículo ideal?
2) Qual a função do cartaz escolar?
3) Por que as pessoas não leem os cartazes escolares? Por que eles nos causam a impressão de estarem poluindo o ambiente? O que há neles de repulsivo?
4) Que linguagem devo usar para o público leitor do cartaz escolar?
5) O que usar no cartaz para que as pessoas passem por ele, parem e leiam?

As perguntas não terminam aqui, mas já é um começo.

Penso que a escolha do suporte é muito importante. O papel metro é bastante usado, mas machucam facilmente e as cores não ajudam muito (branco ou marrom). A forma de fixar o cartaz na parede também prejudica a boa apresentação. É comum vermos as pontas dos cartazes dobradas, quando não caídas pelos corredores das escolas ou então partes do cartaz formando lombadas de ar por falta de cuidado e atenção ao afixar na parede.

Do ponto de vista do conteúdo, creio que um dos maiores problemas está em adequar a quantidade de imagens ao espaço físico escolhido, o que tem a ver com a seleção do material. É frequente as pessoas se sentirem impulsionadas a colocar muitas figuras nos cartazes, provocando confusão e ilegibilidade durante a leitura. Imagens muito pequenas também dificultam a leitura, por isso é importante selecionar as imagens e ver em que suporte elas ficariam melhor arrumadas. Se uma pessoa tem 50 imagens, com certeza não poderá prendê-las em uma cartolina ou papel duplex porque ficariam amontoadas.

É importante dizer ainda que é preciso reservar uma distância de aproximadamente 3 centímetros entre a extremidade do cartaz e o seu conteúdo. Como se fosse a margem do caderno.

Um cartaz não comporta um texto dissertativo, portanto não penso que se deva escrever muito nestes espaços. O cartaz é em geral mais sugestivo porque a linguagem visual é mais importante do que a escrita, usada apenas para breves informações: título e identificação, em geral. Acredito que não compete aos cartazes a exposição conceitual prolongada ou descritiva sobre um estudo, mas o cartaz pode provocar uma reflexão acerca de um estudo. Ele deve servir mais como uma provocação do que ser veículo de conteúdos aprendidos em uma disciplina com o intuito apenas de difundir um conhecimento.

As cores não devem ultrapassar quatro, segundo alguns especialistas, sem contar com o preto e o branco. As fontes e o tamanho estão relacionados, respectivamente, ao público e à distância entre o público e o cartaz ou, ainda, ao DESTAQUE que se queira fazer de uma palavra. Quando se escreve para crianças, é comum o uso de letras arredondadas, mais desenhadas, porém sem abusar deste recurso, pois pode beirar a uma puerilidade afetada. Já um cartaz escolar exige fontes mais formais.

Outro aspecto a se considerar refere-se à disposição das imagens e das palavras no cartaz. Onde colocar a figura? Onde colocar o texto escrito? A meu ver, deve-se considerar algumas questões estéticas: a figura maior, tende a ser a mais importante, por isso deve estar centralizada, as menores devem estar dispostas ao seu redor. Outra questão diz respeito a ordenação, se linear ou randômicas. Mais uma vez a escolha tem a ver com o efeito. Quando dispomos das figuras de forma linear (uma atrás da outra ou uma ao lado da outra) elas dão um resultado visual estático. Se optamos pelo efeito aleatório, daremos uma impressão de movimento, dinamismo.

É importante destacar que a qualidade do trabalho depende muito da limpeza do ambiente e da seleção da bancada de apoio. A superfície para trabalhar um cartaz deve ser lisa e bastante limpa para evitar imperfeições durante o manuseio do lápis. Além disso, há de se considerar também a mão de quem faz, isto é, se uma pessoa é pouco afeita ao trabalho artesanal, ao manejo com instrumentos tão delicados, certamente terá mais dificuldade de realizar esta atividade, que exige muita suavidade, delicadeza e atenção para o detalhe. Qualquer pessoa pode desenvolver esta habilidade, mas precisa conhecer as suas limitações para poder superá-las e sempre praticar para aperfeiçoar.

É importante também fazer uso correto das cores. Sabemos que as cores possuem significados em nossa cultura. O vermelho evoca vida, paixão, sangue e é uma cor muito usada como destaque, devido à sua força explosiva diante dos olhos. Deve-se usá-la com bastante cuidado. O verde e o azul são cores mais suaves e seu excesso pode cansar e passar melancolia. Contudo, faz-se necessário atentar para a gradação das cores, pois existem tonalidade mais abertas que chamam bastante a atenção. É importante verificar o contraste das cores, pois o "tom sobre tom" não provoca estímulo à visão. Colocar verde e azul juntos não causa impacto visual.

Outro aspecto importante: a mistura de tipos de imagem. É possível misturar foto e desenho? Pode, mas tem que saber como. Qual o papel do desenho e da foto no seu trabalho? O cinema tem feito isso com frequência, usando desenhos nos filmes live-action, mas da mesma forma que eles se colaboram no filme, deve ser também nos cartazes. O desenho não pode ficar sem sentido no cartaz, é necessário, portanto, ter consciência do efeito que se quer unindo as duas linguagens. Usar um desenho porque as fotos terminaram pode ser uma motivação, mas este problema pode ser transformado em solução, como recurso estético, artístico, depende apenas de como será colocado no cartaz.


Encontrei o cartaz acima na internet e achei por bem fazer algumas considerações. Tenho certeza que a autora fez o seu melhor e se ela ler os meus comentários, que eles possam ajudá-la nos trabalhos futuros.

O título está bem centralizado e com espaçamento, apesar de pouco, entre a extremidade do papel e o seu conteúdo. As letras vazadas não destacam muito o título, neste caso seria melhor preenchê-las.

As imagens selecionadas parecem querer identificar um bandeirante (imagem em close up), o seu papel na sociedade (plano conjunto e imagem de um mapa) e a sua importância (imagem de uma escultura). Neste sentido, bem construído. Parabéns à autora. Algumas pessoas preferem não emoldurar as imagens, outras acham que dão um efeito melhor. A moldura dá um aspecto mais organizado, destacado à imagem. A minha única ressalva é quanto ao trabalho escrito preso ao centro do cartaz. 

Em um cartaz, não cabe a divulgação de textos longos porque o seu próposito é proporcionar uma leitura rápida, resumida, mas que nem por isso menos provocativa para uma reflexão. Se o objetivo é divulgar um trabalho mais longo, sugiro a apresentação em forma de seminário para a turma e comunidade escolar. Aliás, uma forma de estimular a criança ou adolescente a falar em público e a escrever.

Em se tratando da colagem contendo a identificação, penso que ela poderia ser menor e disposta do lado direito do cartaz. Vejo que esta parte do trabalho foi digitada, mas os textos relacionados às imagens foram manuscritos. Acredito que caberia aqui uma padronização.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Ana Maria Machado e Myriam Fraga na Bahia (com Lilian e Josemara)



Ana Maria Machado e Myriam Fraga duas das maiores escritoras brasileiras estiveram com Josemara Reis e Lilian Meneses durante evento em Salvador sobre Jorge Amado, ocorrido em agosto de 2012. É sempre um grande prazer encontrar ao vivo e em cores as autoras responsáveis pelo nosso deleite literário.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Liberdade, Cecília Meireles

O conto abaixo foi escrito por Cecília Meireles, publicado em 1964, e fala sobre a liberdade, uma palavra que foi mencionada hoje durante a aula. Neste texto, Cecília Meireles diz: "Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes. Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios."  Leiam o texto na íntegra:

Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se tem até morrido com alegria e felicidade.

 Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram: “Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam: “Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” – em certo instante.

Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.

Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)

Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver obrigatoriamente entre quatro paredes.

Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sono das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso…).
Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!…
 Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida.

E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa da Liberdade nas mãos!…

São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.

Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…

PAINEL DE FOTOGRAFIAS

O Painel de Fotografias "Olhares sobre a Criança" tem o propósito de reunir fotos das(dos) alunas(os) quando crianças. A ideia é formar uma exposição fotográfica que possa mostrar o olhar do adulto (quem geralmente fotografa) durante a captura da imagem sobre a criança, a fim de observarmos o que está subjacente ao ato de fotografar crianças, assim como pensarmos de que forma a composição da foto informa sobre esta visão da criança pelo adulto através da imagem. Por outro lado, a atividade visa também provocar uma reflexão sobre como a criança se posiciona diante da câmera, como corpo a ser fotografo pelo outro, o adulto.

Quem é a criança fotografada? Como ela aparece na foto? Em que contexto a fotografia foi tirada? O que a foto diz sobre a criança?

Estas questões são fundamentais para pensarmos sobre a infância e como o adulto a define, a vê, já que o conceito de infância é elaborado pelo adulto, portanto relacional. Este ao definir o outro (neste caso a criança) define também a si mesmo. 

Vimos hoje na aula que palavras como liberdade, dependência, criatividade, imaginação, brincadeira, ingenuidade foram associadas para definir a infância. A questão é: esta infância é a que idealizamos ou a que existe no nosso dia-a-dia? Seria muito interessante se pensássemos o que estas palavras significam para nós. Por exemplo, o que significa a liberdade e, o seu oposto, a prisão?  Se a criança significa liberdade, o adulto estaria confinado à prisão. Que prisão é essa? Que liberdade é essa?
Questões para pensar... 

VISITA À BRINQUEDOTECA

A visita à Brinquedoteca Paulo Freire (BPF) é uma atividade coletiva a ser realizada nesta primeira unidade pela turma (escolha um nome para a turma. Ex.: "Via Láctea", "Tertúlia", etc.). A turma deverá se organizar para cumprir a atividade:

Momento na BPF:

1) Fazer o levantamento dos livros de literatura infantil existentes no acervo;
2) Falar sobre a recepção feita pelos responsáveis pela BPF;
3) Avaliar o espaço (cantinho da leitura);
4) Registrar:
4.1 a quantidade de livros;
4.2 o título dos livros;
4.3 ano de publicação;
4.4 nome do autor(a)/ilustrador(a);
4.5 gênero literário (narrativo, lírico ou dramático)
4.6 resumo da história;
4.7 tema

Momento Sala de Aula:

5) Produzir um relatório com base na visita a BPF;
Elementos pré-textuais:
5.1 Inserir dados identificadores (instituição, turma, disciplina, professor, etc)
5.2 Título da atividade;
Elementos Textuais:
5.3 Texto
a) Introdução: quem solicitou o relatório, com que finalidade, como as atividades foram desenvolvidas (metodologia);
b) Desenvolvimento (passos da atividade) informar quando a atividade foi feita e descrever detalhadamente o que foi feito;
c) Conclusão: avaliação da atividade;
d) Linguagem cuidada (verificar pontuação, acentuação, ortografia, etc.)
Elementos pós-textuais (anexos):
Material (ex,: tabelas, gráficos, esquemas), usado no primeiro momento (cópia)
Registro fotográfico

Orientações quanto à estética do trabalho:

a) Fonte 12, Times New Roman;
b) Espaço entrelinhas 1,5;
c) Quantidade de laudas: mínimo de 5 e máximo de 10 (sem contar com os elementos pré-textuais e pós-textuais)
d) Alinhamento justificado (elementos textuais)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

ROTEIRO DE APRESENTAÇÃO - 2 AVALIAÇÃO

Os slides de apresentação deverão observar as seguintes instruções:

a) Dados de identificação (cabeçalho, titulo, nomes dos componentes, da disciplina e do professor)
b) Objeto da pesquisa (o que vocês estão pesquisando?)
c) Objetivo (para quê vocês estão pesquisando?)
d) Justificativa (por que a sua pesquisa é importante? Quais as descobertas feitas? Que contribuição sua pesquisa tem para a sua formação?)
e) Metodologia (como vocês se organizaram? Que procedimento vocês adotaram para o desenvolvimento da pesquisa?)
f) Resultados esperados (o que você espera com esta pesquisa?)
g) Bibliografia (fontes teóricas)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

ALGUNS SÍMBOLOS NO FILME BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR


Cavalo branco, cervo branco, corvo, borboleta, os animais passeiam no filme Branca de Neve e o Caçador, e poucos percebem a inserção destes elementos simbólicos nas cenas, compondo o processo de coesão e coerência textuais, e participando do processo da construção de sentidos.

Cavalo branco: O cavalo simboliza vida e morte, portanto está ligado à passagem de um ponto a outro. Estar montado em um cavalo significa estar passando por um momento de transição, de fluxo, de movimento. Está relacionado ainda à sexualidade e à libido.  Branca de Neve escapa da morte e ao montar o cavalo branco (virgindade) segue para a floresta, lugar do conflito e da revelação (cervo). Observe-se que o cavalo cai em um buraco enlameado e sugado por este. Se o cavalo refere-se à sexualidade virginal, a queda no buraco enlameado pode significar processo de maturação psicossexual, perda da virgindade, da ingenuidade, o encontro com a vida, com o mundo (ela esteve presa até então)

Cervo branco: O cervo traz o significado de renascimento e está associado à renovação do ser humano. O cervo é aquele que revela, que conduz alguém para um encontro consigo mesmo, sendo revelador e mediador entre o indivíduo e o mundo. Neste momento, Branca de Neve é conduzida para um lugar e encontra o cervo gigante, com longos chifres. Ele representa a revelação e ressurreição e o encontro entre os dois ocorre quando ela acorda depois de ser envenenada pela madrasta.

Corvo: simboliza a curiosidade, a inteligência, a observação e o mistério. O corvo está associado às mudanças e ao movimento, além de ser destemido e  guardião das coisas ocultas e sagradas. O corvo no filme está associado a madrasta e, por isso, a sua simbologia está revestida de agouro, mas o corvo representa também aquele que leva e traz mensagens. Com o tempo, o corvo ficou associado a mau presságio. 

Borboleta: está associada à alma, a ressurreição, transformação, novo começoQuando o cervo é atingido pela flecha dos soldados da rainha, a sua forma é transformada em borboletas, simbolizando a transformação e o novo começo para Branca de Neve.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

LIVRO-TRAVESSEIRO - EQUIPES

Equipe 1

Ícaro Mateus Gonçalves
Flávio Teixeira
Juceli Pereira
Marília Paz Pereira
Raimile Vasconcelos

Equipe 2

Joseane Conceição
Ionildes Barreto
Naiane Nascimento
Naiane Nobre
Priscila Martins
Vanessa Valverde

quinta-feira, 31 de maio de 2012

LITERATURA NO SANITÁRIO

Uma reflexão literária pode acontecer nos lugares mais inusitados. Encontrei-me com duas alunas no toalete e fiquei entusiasmada com os seus enstusiasmos. Falavam-me da alegria de terem descoberto possibilidades de trabalhar a literatura indisciplinarmente.

Estas alegrias são típicas de quem aprende a aprender, isto é, aprende que o conhecimento é gerado a partir de combinações conceituais, de ideias, que só podem ser produzidas pelo sujeito interpretativo.

Cada professor analisa a realidade de acordo com a sua visão de mundo, impressa desde a escolha do objeto, passando pelos dispositivos teóricos. Assim, cabe a cada aluno ou aluna escutar e elaborar a sua própria visão de mundo, que pode se aproximar de alguma visão do professor, sem, contudo, confundir-se com esta.

Apesar de ter sido um encontro tão rápido, como requeria o ambiente, o diálogo foi riquíssimo, revelando futuras professoras comprometidas com a formação literária da criança, com o desenvolvimento de sua sensibilidade, de sua humanidade.

PLANEJAMENTO - MÊS JUNHO

Cronograma de Leituras para o mês de Junho.

01/06 - Discussão sobre o livro de Maria José Palo, Literatura Infantil: Voz de Criança e comentário sobre a narrativa Sapé e a Princesa.

15/06 - Debate sobre o texto Como se Ensina a Ser Menina, de Montserrat Moreno e análise do texto Grisélidis, de Perrault

22/06 - Discussão dobre o artigo Gênero e Literatura Infantil, de Lúcia Leiro, e leitura e análise do livro Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque.

29/06 - Círculo do Livro - Leitura de 5 livros de literatura infantil em sala de aula.

06/07 - Apresentação dos livro-travesseiros. (avaliação 1)

Avaliações:

06/07 - Livro-travesseiro - 10,0

27/07 e 03/08 - Seminário com a apresentãção parcial da pesquisa - 10,0

10/08- Pesquisa sobre as autoras de Literatura Infantil - 10,0

Obs.: não deixem para a última hora, pois não serão aceitas justificativas para a inobservância dos prazos.

sábado, 21 de abril de 2012

Aula 20/04/2012

A primeira aula foi importante para nos conhecermos. Com base nesse prévio conhecimento, exponho neste espaço algumas reflexões sobre a proposta do nosso trabalho:

1. Objeto de estudo: literatura infantil na forma impressa. Suporte livro ou e-book.

2. Abordagem teórica: Análise de Discurso Crítica Feminista (ADCF). Conceitos: língua, linguagens, discurso, texto, intertexto, interdiscurso, intergenericidade, ideologia, hegemonia, modelo tridimensional (Fairclough), gênero.

3. Metodologia: aulas expositivas, leitura e debate sobre os textos teóricos e literários, produção textual individual ou em grupo.

4. Avaliação: não definimos em sala. Hoje, penso em algumas possibilidades avaliativas:

A primeira avaliação seria a análise de um livro de literatura infantil sugerido pelo professor. Todos leriam o mesmo livro e fariam uma análise com base nos dispositivos teóricos estudados. (em sala de aula, individual, forma impressa) - 08 de junho

A segunda avaliação seria um seminário sobre a terceira avaliação. Neste seminário, os estudantes apresentariam os resultados parciais de sua pesquisa. (em sala, em equipe - apenas exposição oral) - até  06 de julho

A terceira avaliação consistiria na apresentação de um texto impresso, reflexivo, sobre a sua pesquisa quantitativa e qualitativa feita com o material da biblioteca. (de campo, em equipe, forma impressa) - até o dia 10/08

Nesta última avaliação, cada equipe faria uma pesquisa de campo sobre os livros literários infantis (não juvenis) disponíveis na biblioteca, a serem analisados a partir da perspectiva de gênero. Em outras palavras investigar a representação de menino e de menina nos livros de literatura infantil, tendo em vista o tratamento dado aos papéis sociais performatizados por homens e mulheres. Esta avaliação poder ser a última, pois exige tempo.
5. Bibliografia:

1. Literatura Infantil: Voz de Criança, Maria José Palo, Ed. Ática.

Atividade: identificar os principais conceitos e ideias do texto (escrever no caderno).

2. Pesquisa na Escola, Marcos Bagno, Ed. Loyola

Atividade: elaborar o projeto de pesquisa de campo (avaliação 3).

3. Como se Ensina a ser Menina, MontSerrat Moreno, Ed. Moderna



4. Literatuna Infantil na Escola, Regina Zilberman, Ed. Global

Atividade: identificar os principais conceitos e ideias do texto (escrever no caderno).


Gostaria de pedir a vocês que enviassem o e-mail da turma para ltleiro@gmail.com, a fim de poder compartilhar material didático digitalizado. Toda mensagem enviada pelo e-mail da turma para o professor deve ser assinada.

Atividade: identificar e os principais conceitos e as ideias do texto (escrever no caderno).

domingo, 8 de abril de 2012

LINKS DO BLOG PARA LEITURA

Selecionei alguns links importantes de textos reflexivos sobre literatura infantil e metodologia de estudos. Para quem ainda não cursou a minha disciplina, é leitura imprescindível. Para aqueles que já passaram, fica apenas a sugestão:


DECLARAÇÃO PARA MONITORIA VOLUNTÁRIA

Alguns alunos têm me procurado para saber dos procedimentos para concorrer à monitoria voluntária. Além das orientações ao lado, na seção "Não deixe de ler", segue abaixo o modelo de declaração, um dos documentos exigidos no momento de requerer no Protocolo.


DECLARAÇÃO

Declaro, para fins de seleção à monitoria voluntária de ensino para a disciplina _______, ministrada pela professora Lúcia Tavares Leiro, que eu, _______, matriculada sob o número _____ nesta universidade, concluí a referida disciplina obtendo a média ____ (vide histórico escolar). Além disso, tenho acesso à internet, possuo a disponibilidade de 4 (quatro horas) semanais para as reuniões de monitoria e tenho afinidade com a disciplina pleiteada neste documento.

Cidade, data
Assinatura

Antes de requerer, o estudante deve ler o seguinte documento:

sábado, 7 de abril de 2012

Chapeuzinho Vermelho faz 200 anos

Quantas versões de Chapeuzinho Vermelho vêm atravessando esses dois séculos? O que há de tão atraente na história de uma menina que é devorada por um lobo? Músicas, histórias infantis, filmes, peças publicitárias (Calendário Campari 2008, com Eva Mendes), videoclipes, entre outros se renderam a história da menina do capuz vermelho para refleti-la ou para refratá-la.
É fato que muitas são as adaptações da narrativa popular que se transformaram em literatura infantil pelas ágeis mãos de Charles Perrault, cujo fundo moralizante é inserido em um pós-texto explicativo, e dos Irmãos Grimm, responsáveis por um desfecho mais condizente com a moral burguesa, e que, assim como Perrault, lançam mão de uma breve mensagem de advertência. Na versão dos Grimm, um lenhador aparece para retirar a avó e a neta de dentro da barriga do lobo, o que não acontece em Perrault:


Mas este aspecto já foi bastante comentado entre os estudiosos e curiosos da literatura infantil, mas qual deles é mantido nas versões adaptadas? Assim como Grimm mudou a história, muitos recontistas têm feito as suas próprias interpretações do conto, alterando-o.
Em Deu a Louca na Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, uma animação de 2004, dirigido por Todd Edwards, Tony Leech e Cory Edwards,  a menina do capuz vermelho é destemida e não é nada ingênua. A avó é fã de esportes radicais e a metalinguagem é o que há de mais interessante no filme. Um sapo-investigador aparece para ouvir as várias versões sobre o acontecimento e cada um conta da sua perspectiva. Essa parte do filme nos reporta aos métodos usados pelos intelectuais, folcloristas do século XIX, que foram de casa em casa (alguns pegaram mesmo os contos de segunda mão) para ouvir as pessoas narrarem, pois acreditavam que o povo, por ainda não ter tido contato com outras culturas, eram considerados genuinamente “puros”, os porta-vozes do que havia de mais próprio, pertencente a um grupo cultural. Em tempos de reconstrução dos espaços em nações, a compilação (ou quase isto) serviu de estudo filológico, afinal a língua era o aspecto central que distinguia uma nação de outra, e literário, quando houve a necessidade de se construir um acervo nacional que representasse a língua da nação. A presença de um investigador mostra a necessidade e a dificuldade de se achar uma "verdade", com uma suposta neutralidade mediadora, já que cada personagem tem as suas razões e todas muito palusíveis. O investigador não teria a sua própria versão?
É evidente que a intencionalidade dos intelectuais do século XIX pode não ser a mesma dos mediadores culturais do século XXI, mas evocar uma narrativa tão familiar para mostrar uma menina mais independente, pode estar relacionado à forma de viver de muitas meninas hoje, uma vez que nem sempre os pais podem estar presentes e elas precisam cuidar de si.
Outra adaptação recente foi a da diretora Catherine Hardwicke, a mesma de Crepúsculo, que traz uma proposta diferente, embora mantenha elementos-chaves da narrativa primordial. É interessante mostrar que no filme A Garota da Capa Vermelha, de 2011, a capa é um dos poucos elementos que permanece fiel à narrativa dos Irmãos Grimm, afinal, no filme, Chapeuzinho Vermelho é uma jovem, possui uma irmã e um pai (na narrativa dos irmãos alemães, o pai não existe). No filme, a jovem é disputada por dois jovens que são suspeitos de ser o lobo que alardeia a vila, provocando mortes violentas. Da velha narrativa, mantém-se a menina, o lobo, a mãe e a avó, no plano das personagens, além da substituição do lenhador por um caçador-exorcista; em termos de cenário, permanece a floresta que separa a casa da menina da casa da avó. Em relação ainda às personagens, uma diferença crucial e surpreendente é que o lobo é o pai de Chapeuzinho, inserindo no filme uma relação incestuosa, já que conhecemos a simbologia presente no ato de devorar, de conotação sexual. Quando nos deparamos com o filme, associamos imediatamente a significação - ato sexual - ao novo texto - relação pai-filha. Fica ainda mais ambíguo quando o pai exige que a filha fuja com ele para que possa dar continuidade a sua maldição (ou linhagem). Como o incesto precisa ser superado em nossa cultura, o pai morre ao lutar com um dos pretendentes, por quem a jovem é apaixonada. Ele se fere e contrai a maldição, dando prosseguimento a um poder e uma autoridade baseados no terror que é passado, segundo o filme, pelos homens.
Seguindo pela mesma lógica da sedução, a marca de bebida Campari lançou em 2008 um calendário com a atriz latina hollywoodiana Eva Mendes (Motoqueiro Fantasma) para encarnar em cada mês uma personagem dos contos de fada.

Na imagem acima, o ambiente gótico emoldura uma chapeuzinho vermelho já crescida, elegantemente e sensualmente vestida de branco, cujo tecido diáfano deixa exposta toda a extensão da perna. De um lado um lobo que ela traz preso à corrente e na outra mão a bebida, num clara mensagem que vincula o poder da mulher (virginal e fatal?) sobre a natureza do lobo, tendo a bebida como passaporte para este status.  
Já na música, Caetano Veloso, nos anos 60, fez alusão ao conto, escrevendo e interpretando  Enquanto seu Lobo não Vem, do álbum Panis ET Circensis, sendo que usado como metáfora para os anos difíceis de censura:
E foi nesse clima também que Chico Buarque escreveu o livro Chapezinho Amarelo, ilustrado por Ziraldo, no qual Chapeuzinho não é mais uma menina medrosa, mas desafia o lobo, transformando-o em bobo. Numa referência metalinguística, Buarque ludicamente se apropria da palavra lobo e faz uma série de combinações sonoras - lobo-bolo-bobo – registrando como uma representação pode ser modificada na mente das pessoas. É só vê-la de forma diferente. Se o lobo vira bolo - primeiro deslocamento - não é mais lobo e se de bolo ele vira bobo - segundo deslocamento - perde o poder que tinha. A sequência lobo-bolo-bobo não é apenas uma brincadeira com as palavras, mas uma nova maneira de enxergar uma realidade. Neste sentido, Buarque parece querer mostrar que para mudar uma realidade faz-se necessário uma interferência na língua, na linguagem, dissociando significante e significado. O significante lobo deixou de ter o significado de sempre, já cristalizado pela cultura, para se transformar em algo novo que exige uma nova forma de estar no mundo. Assim, a literatura infantil nunca foi e jamais será um monte de palavras sem nexo, ao contrário, todas mediadas pelo adulto que tinha clara ideia do que queria das crianças (quando eram elas seus interloutores visuais):
Vamos passear na floresta escondida, meu amor
Vamos passear na avenida
Vamos passear nas veredas, no alto meu amor
Há uma cordilheira sob o asfalto

(Os clarins da banda militar…)
A Estação Primeira da Mangueira passa em ruas largas
(Os clarins da banda militar…)
Passa por debaixo da Avenida Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar…)
Presidente Vargas, Presidente Vargas, Presidente Vargas
(Os clarins da banda militar…)

Vamos passear nos Estados Unidos do Brasil
Vamos passear escondidos
Vamos desfilar pela rua onde Mangueira passou
Vamos por debaixo das ruas

(Os clarins da banda militar…)
Debaixo das bombas, das bandeiras
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo das botas
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo das rosas, dos jardins
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo da lama
(Os clarins da banda militar…)
Debaixo da cama
A referência ao maravilhoso era muito recorrente na época da Ditadura, já que os artistas tinham que driblar as instituições fiscalizadoras e nada mais oportuno do que as histórias repletas de fantasia e simbologias para gerar ambiguidades, diversas interpretações.

Por fim, para encerrar (mas não esgotar) as referências ao conto dos Grimm, também o pagode baiano deixou a sua marca na história, mantendo a carga erótica do conto ao associar o gesto de devorar ao ato sexual. O pagode Lobo Mau (Vou te Comer) revitalizou o conto que, unindo música e performance (dança), ratifica a mensagem fazendo uso do acervo cultural. A Chapeuzinho, no pagode, aparece como uma menina ingênua para reconstruir a identidade de poder (fálico) do homem.


Quando lemos a letra da música e vemos um videoclipe, percebemos que no pagode baiano a letra é um mero acessório. A ênfase maior é na expressão corporal (a performance), na entonação de voz, nos improvisos dialogados com outro músico ou com a plateia, na indumentária do artista e cenários de palco.

Na gravação do carnaval de 2010, por exemplo, ao lado de Ivete Sangalo, o vocalista Márcio Vitor sobe no trio usando uma capa vermelha. Ivete se dirige a ele dizendo que se ele é chapeuzinho, ela seria o lobo mau. Há uma inversão carnavalizante, mas que não representa um deslocamento de poder, já que tão logo a música começa, ele retira o capuz vermelho. Ivete, por ser mais alta e mais encorpada que o cantor, acaba criando uma imagem de poder, mas que não se sustenta porque como um ventríloquo ela assume outro personagem, num jogo teatral permitido no carnaval. Ele, no entanto, que retira a capa vermelha ao subir no trio, tenta impedir (em vão) que a sua performance, que simula o coito, ganhe outros significados na representação de uma menina.
Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau, hau, hau
E o que você vai fazer, HAAAAAAA
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
Chapeuzinho pra onde você vai, diz aí menina que eu vou atrás
Chapeuzinho pra onde você vai, diz aí menina que eu vou atrás
Chapeuzinho pra onde você vai, diz aí menina que eu vou atrás
Chapeuzinho pra onde você vai, diz aí menina que eu vou atrás

Pra que você quer saber?

Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau, hau, hau
Eu sou o lobo mau

E o que você vai fazer?
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
vou te comer, vou te comer, vou te comer,
Merenda boa, bem gostozinha
quem preparou foi a vovozinha.

êta danada, êta!
Chapeuzinho Vermelho inspirou e inspira muitas pessoas. É possível que neste ano outros textos passem a circular em razão do bicentenário. Quem sabe quais serão os novos recontos?