domingo, 20 de agosto de 2017

A REPRESENTAÇÃO DO AVÔ E DA AVÓ NA LITERATURA DE MARTA LAGARTA





As avós e os avôs povoam o imaginário da nossa literatura infantil.... quem não se lembra de Dona Benta, personagem icônica de Monteiro Lobato? A avó afetuosa e contadora de histórias?

Pois é, Marta Lagarta e Leo Cunha nos apresentam, em seu livro As fantásticas aventuras da vovó moderna, uma avó bem diferente de Dona Benta: ela não usa coque, suas roupas são alegres e não se limita a usar saias longas acinzentadas, aventais e blusas com mangas enormes. Os escritores saem do estereótipo da avó e recriam uma representação diferente que eu já tinha observado em Mamãe Bela, Mamãe Fera. Os autores nos provocam a pensar a identidade da mulher velha, avós ou não. 

A avó moderna acolhe as visitas dos netos, mas esta não é a única coisa que a define. Ela é uma mulher que aproveita a vida da maneira que só com a idade avançada é possível: com calma e sabedoria. A avó de Lagarta e de Cunha é divertida, dinâmica e levemente distraída.

A maneira de Marta Lagarta escrever é sempre um convite à leitura prazerosa porque inventiva, lúdica e rítmica. Observe neste trecho abaixo o diálogo explícito entre escritor e ilustrador:

“Eu, que te conto essa história,
Estou ilustre ilustrada
Na página aqui ao lado
Dê uma espiadiha só:
Tenho cara de vovó?”

A ilustração neste livro, é bom que se diga, tal como uma câmera de cinema, se movimenta a partir de diferentes ângulos, conduzindo o olhar do leitor pelas páginas e, às vezes, se colocando no lugar deste, de cima para baixo, como quem lê o livro em seu colo ou sobre a mesa.

Um aspecto narrativo importante diz respeito ao tempo. O avô Astolfo é um homem envelhecido, parado no canto, mas quando ele vai à praia e adormece debaixo do guarda-sol, sonha com a sua juventude e começa a se ver como inventor. Este sonho foi o suficiente para o avô remoçar porque, como já diz a música, “sonhos não envelhecem”. Os escritores problematizam o lugar do velho na família e na sociedade que, a meu ver, é modificado quando resolvem sair do lugar convencional. Este movimento pode ser entendido de forma metafórica como uma mudança de olhar o mundo e a si mesmo. O velho não é uma peça descartável como se diz por aí, também não é uma peça de museu para ficar encostada em um canto para ser visto e apreciado, mas é uma pessoa com muita história para viver e peripécias para contar. Vamos ouvi-los, vamos deixá-los viver?

****

As fantásticas aventuras da vovó moderna.
Autores: Marta Lagarta e Leo Cunha
Ilustração: Laurent Cardon
Editora: Companhia das Letrinhas
Rio de Janeiro
2016.

Licença Creative Commons
O trabalho A REPRESENTAÇÃO DO AVÔ E DA AVÓ NA LITERATURA DE MARTA LAGARTA de Lúcia Tavares Leiro está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://literaturaeeducacao-uneb.blogspot.com.br/2017/08/a-representacao-do-avo-e-da-avo-na.html.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em https://www.facebook.com/ltleiro.

A LITERATURA INFANTOJUVENIL DE PALMIRA HEINE




Li recentemente dois livros de Palmira Heine, escritora baiana de literatura infantojuvenil. O livro Uma amizade no mundo dos números e O reino todo amarelo, este em sua 2ª edição, foram publicados neste ano pela Editora Garcia, de Minas Gerais.

Uma amizade no mundo dos números narra a história de amizade e, também, de visão da realidade. O livro aborda a solidão como escolha e não um fim em si mesmo. Estar sozinho pode ser uma opção e o número 1, depois que descobriu o número 0, percebeu que estar só ou acompanhando era uma questão de opção. Era só se mexer que o mundo se apresentava diferente. O número 1 poderia ser 1 ou 10 quando ele quisesse. Esta ideia de que devemos nos movimentar fisicamente ou mentalmente para que a realidade se altere é um princípio filosófico importante porque mostra que a dinâmica da vida, a maneira de como o sujeito se vê e vê o outro depende de uma mudança de lugar, de visão.

Do ponto de vista pedagógico, trazer outros conhecimentos para a literatura é uma forma de aproximar a criança do seu universo complexo que em momento algum é compartimentalizado como as disciplinas escolares. Neste livro de Palmira Heine, a matemática aparece de forma lúdica e filosófica e a literatura de forma criativa e brincante.

Já o livro O reino todo amarelo nos fala de algo sério e muito atual, mas que a escrita de Heine coloca de forma leve e criativa: o poder das instituições. As feministas sempre questionaram o discurso mandante do patriarcado, em geral personificado na figura masculina – o rei, o chefe, o pai, o marido – e neste livro é possível ler desta forma, já que temos um rei que impõe uma forma de ser e ver o mundo a partir do seu gosto e vontade. Ele ignora os outros gostos e vontades, por isso sequer olha a infelicidade das pessoas a sua volta, até porque ele nem as enxerga como pessoas. Um dia uma fada resolve criar uma semente mágica e dela nasce uma flor com pétalas multicores que faz o rei se desesperar. A flor se multiplica e acaba fazendo o rei abdicar do seu trono e ir embora. 

Do ponto de vista pedagógico, é uma leitura oportuna, já que na fase infantil há que se ensinar a criança a não ser autoritária, mas estimulá-la a ser cortês, a escutar, a pensar que a sua vontade é tão importante quanto às demais.

Do ponto de vista literário, o texto dialoga com outras narrativas de fadas, tão conhecidas pelas crianças. É uma forma de mostrar, a partir de um texto encantador, como é possível mudar a realidade do leitor, fazendo uso de elementos do universo literário: rei, fada, encanto, castelo, jardins.

Com esses dois livros, a literatura baiana infantojuvenil amplia o seu acervo e mostra como é possível associar as várias funções da literatura, principalmente a literatura escrita para crianças.
___________________________________________
*Lúcia Leiro é crítica literária, pesquisadora e professora de literatura brasileira da Universidade do Estado da Bahia.

Licença Creative Commons
O trabalho A literatura infantojuvenil de Palmira Heine de Lúcia Tavares Leiro está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://literaturaeeducacao-uneb.blogspot.com.br/2017/08/interseccionalidades-e-diversidade-na.html.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em https://www.facebook.com/ltleiro.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Afrobrasilidades: Túnicas & Turbantes (livro online)

Este livro é resultado de um trabalho visual sobre vestuário e identidade a partir das amarrações de corpo e de cabeça e do uso da chita.Trata-se de uma composição sintática e semântica de referência africana ressignificada na diáspora em razão das diversas circunstâncias históricas, como a escravidão, por exemplo, e todo o movimento "sankófico" de olhar com outra perspectiva. A túnica, o turbante e a chita formam a Afrobrasilidades, nome que dei a esta composição sintático-visual.

domingo, 7 de maio de 2017

CURSO DE EXTENSÃO SOBRE LITERATURA INFANTIL


Acontecerá na Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, o Curso de Extensão sobre Literatura Infantil, ministrado pela Profa. Dra. Lúcia Leiro. O curso é voltado para o público em geral e aborda aspectos históricos e teóricos da literatura para criança, bem como a difusão das narrativas por meio da contação de história.  

ONDE: Sala 12 do Departamento de Educação
HORÁRIO: das 16 às 20h
QUANDO: às quartas-feiras do mês de maio. 

Curso Gratuito.