sábado, 15 de setembro de 2012

Produção de Cartazes Escolares

Este é um tipo de reflexão que envolve profissionais das áreas de Letras e Artes Plásticas. Na condição de professora da área de Letras, sinto-me motivada a falar um pouco deste gênero textual, muito usado em sala de aula, mas pouco respeitado, já que a sua confecção se dá quase que intuitivamente pelos estudantes em geral.

Com base nas minhas experiências, deixo aqui a minha contribuição e espero que seja útil.

Como qualquer gênero textual, o cartaz escolar atende a um propósito comunicativo. Em geral, eles são feitos para registrar e divulgar os conhecimentos sobre algum assunto na escola, por isso são afixados do lado externo da sala de aula. O cartaz tem um papel fundamental na aprendizagem do aluno porque o estimula a trabalhar com a linguagem verbal e não-verbal, porém nem sempre os estudantes são orientados para isso.

Antes de elaborar um cartaz, deve-se, a meu ver, responder a algumas questões:

1) O que se quer com este cartaz?
2) Para quem será este cartaz? Qual o público?
3) O que espero da reação das pessoas ao lerem o cartaz?

Com base nas questões acima, deve-se refletir sobre:

1) O cartaz foi feito para materializar estudos? As pessoas leriam? Seria o veículo ideal?
2) Qual a função do cartaz escolar?
3) Por que as pessoas não leem os cartazes escolares? Por que eles nos causam a impressão de estarem poluindo o ambiente? O que há neles de repulsivo?
4) Que linguagem devo usar para o público leitor do cartaz escolar?
5) O que usar no cartaz para que as pessoas passem por ele, parem e leiam?

As perguntas não terminam aqui, mas já é um começo.

Penso que a escolha do suporte é muito importante. O papel metro é bastante usado, mas machucam facilmente e as cores não ajudam muito (branco ou marrom). A forma de fixar o cartaz na parede também prejudica a boa apresentação. É comum vermos as pontas dos cartazes dobradas, quando não caídas pelos corredores das escolas ou então partes do cartaz formando lombadas de ar por falta de cuidado e atenção ao afixar na parede.

Do ponto de vista do conteúdo, creio que um dos maiores problemas está em adequar a quantidade de imagens ao espaço físico escolhido, o que tem a ver com a seleção do material. É frequente as pessoas se sentirem impulsionadas a colocar muitas figuras nos cartazes, provocando confusão e ilegibilidade durante a leitura. Imagens muito pequenas também dificultam a leitura, por isso é importante selecionar as imagens e ver em que suporte elas ficariam melhor arrumadas. Se uma pessoa tem 50 imagens, com certeza não poderá prendê-las em uma cartolina ou papel duplex porque ficariam amontoadas.

É importante dizer ainda que é preciso reservar uma distância de aproximadamente 3 centímetros entre a extremidade do cartaz e o seu conteúdo. Como se fosse a margem do caderno.

Um cartaz não comporta um texto dissertativo, portanto não penso que se deva escrever muito nestes espaços. O cartaz é em geral mais sugestivo porque a linguagem visual é mais importante do que a escrita, usada apenas para breves informações: título e identificação, em geral. Acredito que não compete aos cartazes a exposição conceitual prolongada ou descritiva sobre um estudo, mas o cartaz pode provocar uma reflexão acerca de um estudo. Ele deve servir mais como uma provocação do que ser veículo de conteúdos aprendidos em uma disciplina com o intuito apenas de difundir um conhecimento.

As cores não devem ultrapassar quatro, segundo alguns especialistas, sem contar com o preto e o branco. As fontes e o tamanho estão relacionados, respectivamente, ao público e à distância entre o público e o cartaz ou, ainda, ao DESTAQUE que se queira fazer de uma palavra. Quando se escreve para crianças, é comum o uso de letras arredondadas, mais desenhadas, porém sem abusar deste recurso, pois pode beirar a uma puerilidade afetada. Já um cartaz escolar exige fontes mais formais.

Outro aspecto a se considerar refere-se à disposição das imagens e das palavras no cartaz. Onde colocar a figura? Onde colocar o texto escrito? A meu ver, deve-se considerar algumas questões estéticas: a figura maior, tende a ser a mais importante, por isso deve estar centralizada, as menores devem estar dispostas ao seu redor. Outra questão diz respeito a ordenação, se linear ou randômicas. Mais uma vez a escolha tem a ver com o efeito. Quando dispomos das figuras de forma linear (uma atrás da outra ou uma ao lado da outra) elas dão um resultado visual estático. Se optamos pelo efeito aleatório, daremos uma impressão de movimento, dinamismo.

É importante destacar que a qualidade do trabalho depende muito da limpeza do ambiente e da seleção da bancada de apoio. A superfície para trabalhar um cartaz deve ser lisa e bastante limpa para evitar imperfeições durante o manuseio do lápis. Além disso, há de se considerar também a mão de quem faz, isto é, se uma pessoa é pouco afeita ao trabalho artesanal, ao manejo com instrumentos tão delicados, certamente terá mais dificuldade de realizar esta atividade, que exige muita suavidade, delicadeza e atenção para o detalhe. Qualquer pessoa pode desenvolver esta habilidade, mas precisa conhecer as suas limitações para poder superá-las e sempre praticar para aperfeiçoar.

É importante também fazer uso correto das cores. Sabemos que as cores possuem significados em nossa cultura. O vermelho evoca vida, paixão, sangue e é uma cor muito usada como destaque, devido à sua força explosiva diante dos olhos. Deve-se usá-la com bastante cuidado. O verde e o azul são cores mais suaves e seu excesso pode cansar e passar melancolia. Contudo, faz-se necessário atentar para a gradação das cores, pois existem tonalidade mais abertas que chamam bastante a atenção. É importante verificar o contraste das cores, pois o "tom sobre tom" não provoca estímulo à visão. Colocar verde e azul juntos não causa impacto visual.

Outro aspecto importante: a mistura de tipos de imagem. É possível misturar foto e desenho? Pode, mas tem que saber como. Qual o papel do desenho e da foto no seu trabalho? O cinema tem feito isso com frequência, usando desenhos nos filmes live-action, mas da mesma forma que eles se colaboram no filme, deve ser também nos cartazes. O desenho não pode ficar sem sentido no cartaz, é necessário, portanto, ter consciência do efeito que se quer unindo as duas linguagens. Usar um desenho porque as fotos terminaram pode ser uma motivação, mas este problema pode ser transformado em solução, como recurso estético, artístico, depende apenas de como será colocado no cartaz.


Encontrei o cartaz acima na internet e achei por bem fazer algumas considerações. Tenho certeza que a autora fez o seu melhor e se ela ler os meus comentários, que eles possam ajudá-la nos trabalhos futuros.

O título está bem centralizado e com espaçamento, apesar de pouco, entre a extremidade do papel e o seu conteúdo. As letras vazadas não destacam muito o título, neste caso seria melhor preenchê-las.

As imagens selecionadas parecem querer identificar um bandeirante (imagem em close up), o seu papel na sociedade (plano conjunto e imagem de um mapa) e a sua importância (imagem de uma escultura). Neste sentido, bem construído. Parabéns à autora. Algumas pessoas preferem não emoldurar as imagens, outras acham que dão um efeito melhor. A moldura dá um aspecto mais organizado, destacado à imagem. A minha única ressalva é quanto ao trabalho escrito preso ao centro do cartaz. 

Em um cartaz, não cabe a divulgação de textos longos porque o seu próposito é proporcionar uma leitura rápida, resumida, mas que nem por isso menos provocativa para uma reflexão. Se o objetivo é divulgar um trabalho mais longo, sugiro a apresentação em forma de seminário para a turma e comunidade escolar. Aliás, uma forma de estimular a criança ou adolescente a falar em público e a escrever.

Em se tratando da colagem contendo a identificação, penso que ela poderia ser menor e disposta do lado direito do cartaz. Vejo que esta parte do trabalho foi digitada, mas os textos relacionados às imagens foram manuscritos. Acredito que caberia aqui uma padronização.


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