sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

QUESTÃO 2: O PAPEL DO PEDAGOGO COMO MEDIADOR

Uma outra provocação também muito interessante foi sobre o papel do professor como mediador entre o leitor e o livro. Maria José Palo define essa rede como "cadeia de mediadores" que controla o acesso da criança ao livro.  Sendo assim, o livro chega às mãos da criança via esses mediadores que selecionam, dão acesso, orientam (ou induzem) o que a deve gostar de ler.

Uma das formas de construir o conhecimento é dialeticamente, o que pressupõe discussão, cotejamento de ideias, formulação e reformulação constante, até chegar a um ponto em que o sujeito esteja satisfeito com a resposta ou então já tenha convencido a sua audiência.

Diante disso, pensei no papel da escola, deste espaço de construção do conhecimento e qual o seu papel a neste processo, entendendo processo como as etapas que compreendem todos os momentos de formação do aluno, incluindo a proposta filosófico-pedagógica da escola e culminando com a ação do professor na sala de aula. Entendo o conhecimento como desenvolvimento de potencialidades cognitivas que incluem o conhecimento conteudístico e o conhecimento de si, das próprias emoções do indivíduo, ambos indissociáveis, a meu ver.

O professor, portanto, tem a função de possibilitar esse desenvolvimento da criança através da escolha, por exemplo, de uma literatura que favoreça a sua melhoria. A escola deve contribuir na formação de um sujeito melhor, enquanto pessoa e enquanto parte de uma coletividade. Esta afirmação implica em um outro movimento reflexivo: o que significa esse melhor? Tem a ver com uma adequação do aluno à ordem (e que ordem é essa?) ou questionamento dessa ordem? Além disso, como fazer para que ele possa discenir sobre os caminhos possíveis a seguir e os desdobramentos dessa escolha?

As questões acima me chamaram a atenção para as narrativas em que o heroi precisa passar por uma desdita para viver as peripécias que o conduzirá a uma consciência e recuperação de um equilíbrio incial, como se estivesse retomando o destino que foi interrompido, que antecede a sua escolha equivocada. Parece-me que o papel do professor é mediar a escolha, mas não fazer as escolhas pelos alunos, a fim de que eles possam viver as suas peripécias e recuperar, através da consciência, de um estado (se é que existe) mais ou menos equilibrado. Os desenhos animados operam com essa estrutura. Pensem em o Rei Leão: Simba faz uma escolha (induzida, é verdade) de curtir a vida, deixando o espaço livre para que outros possam fazer aquilo que ele deveria estar fazendo, enquanto isso a des-ordem se estabelece. Ele vive as peripécias que incluem bastante sofrimento para, enfim, "cair na real" e voltar (fisicamente ou psicologicamente) ao ponto de origem, antes da sua escolha, para tentar retomar a ordem, o equilíbrio. Neste aspecto, o filme o Rei Leão é bastante pedagógico, pois ensina que as pessoas são responsáveis pelas suas escolhas e que se outros estão ocupando os espaços que deveríamos estar ocupando foi porque deixamos. Mas há sempre uma chance para recuperar... o problema é que o filme precisa fechar e ele encerra com um final feliz, mantendo o esquema ordem-desordem-ordem, enquanto que na vida real, esse estado de equilíbrio é sempre confrontado e constante (para a nossa alegria ou desespero) até a morte do sujeito:  ordem-desordem-ordem-ordem-desordem-ordem-ordem-desordem-ordem-ordem-desordem-ordemoudesordemmorte.

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