sábado, 31 de dezembro de 2011

1º Encontro de Grafiteiros de Salvador e RMS

Recebi por e-mail a mensagem abaixo sobre o encontro de grafiteiros e grafiteiras em Salvador. É uma oportunidade para conhecer mais sobre a linguagem artística popular.


Programação conta com palestras, oficina de Graffite e apresentações de Rap e Breack Dance; doação de alimento garante inscrição no evento; confira programação

Os interessados e militantes do Hip Hop em Salvador e Região Metropolitana têm programação garantida neste final de semana. É que a Comunidade Pernambués Ativa (CPA) realiza nos dias 17 e 18 de dezembro o  1º Encontro de Grafiteir@s de Salvador e Região Metropolitana. O evento, que acontecerá no Centro Social Urbano de Pernambués, tem caráter formativo e de entretenimento para os participantes que se inscreverem através da doação de 1 kg de alimento não perecível até o dia do Encontro. Na programação do evento as atividades vão de palestras sobre a arte das ruas  à apresentação de grupos de  Rap e Breack.

Comunidade Pernambués Ativa
O CPA é um grupo formado por jovens moradores da comunidade de Pernambués, um dos bairros mais populosos de Salvador, que se dedica a realizar ações que  atenda algumas das demandas dos jovens da região e dos integrantes do movimento Hip-Hop em Salvador. O CPA tem parceria com o Grupo de Arte-Educação, Esporte e Cultura (GAEEC), instituição liderada por jovens ativistas que tem atuação em Salvador  e nas cidades próximas a Alagoinhas. O 1º Encontro de Grafiteiros é uma ação conjunta do GAEEC e do CPA. Vale ressaltar que, todos os alimentos doados na inscrição do evento serão entregues ao Instituto Beneficente Conceição Macedo (IBCM), entidade que acolhe crianças e adolescentes com HIV/AIDS,  localizada no bairro de Pernambués.

Serviço
O que: 1º Encontro de Grafiteir@s de Salvador e Região Metropolitana
Quando: 17  e 18 de dezembro
Onde: Centro Social Urbano de Pernambués
Quanto: 1 kg de alimento não perecível

Programação
Dia 17- Seminário: A Arte de Rua na Perspectiva dos Direitos Humanos – de 09 às 11 horas
Discussão sobre O Fórum Baiano da Cultura Hip-Hop – a partir das 11 horas
Pausa para o almoço- 12 horas
Oficina de Graffite – de 13 às 17 horas
Apresentação Cultural – de  18 às  22 horas

Dia 18- Manifestação Temática no muro com Graffite – de 09 às 15  horas
Exposição Artística – 15 às 17 horas
Apresentação Cultural – 18 às 22 horas
 
Mais informações:
Comunicação- Rebeca Bastos (71 8872-4514)
Coordenação GAEEC- Demisson Cardoso (71 8181-1998)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A literatura Infantil no topo da Academia Brasileira de Letras

Ana Maria Machado
"Durante muitos anos foi proibido ter mulheres na academia. Ainda somos só 10% porque não tem vagas, e tomara que não tenha por muito tempo (...) Vagas na ABL são abertas quando algum acadêmico morre." (Ana Maria Machado)

Ana Maria Machado assumiu hoje a presidência da ABL, substituindo o pernambucano Marcos Vinicius Vilaça.  Nélida Piñon foi a primeira mulher a ocupar o cargo e agora uma autora da literatura infantil, responsável por mais de 150 livros publicados. Para Ana Maria Machado, "a baixa participação feminina é fruto da construção histórica da ABL".

Rapunzel, a princesa perdida

A narrativa Rapunzel dos Irmãos Grimm, como já disse anteriormente neste blog, circula no ocidente alimentando-se de outras narrativas como a da Princesa Perdida, sobre a qual a animação da Disney, Enrolados, fez referência. As versões literárias têm como base a versão dos Irmãos Grimm, mas antes dele outras pessoas já haviam escrito histórias sobre uma jovem presa na torre. A torre é um elemento bastante recorrente nas narrativas populares como representação do inacessível, do intocável, do mistério.
Se pensarmos na narrativa dos Grimm, veremos como ela se aproxima dos valores burgueses que emergiam na época, considerando que os dois irmãos viveram toda a metade do século XIX, período correspondente ao avanço e fortalecimento dos ideais burgueses que na Alemanha e outros países periféricos teriam uma configuração diferente dos países centrais, muito embora a França tivesse o seu momento de tensão durante a Querela dos Antigos e dos Novos. Isto mostra que as nações foram violentamente ou sedutoramente estruturadas. O conto Rapunzel pode ser visto como uma forma sedutora de organizar o tecido social burguês, refletindo os ideais de uma nova classe social que se organizava em busca de afirmação política. Para tal, teria de lançar mãos de estratégias de popularização de suas ideias. Uma das estratégias deu-se com a apropriação dos elementos culturais do povo, uma delas as narrativas orais, com as devidas adequações baseadas na cosmovisão da classe que emergia, já que as histórias deveriam atender aos novos valores desta classe. Com isso, a burguesia intelectual pretendia reorganizar o tecido social influenciando o povo a adotar as suas regras: o amor (filial, maternal, paternal, marital), a família (núcleo familiar – pai, mãe e filhos), a individualidade, o controle dos desejos, o medo, a consciência, a coragem (os sentimentos humanos), o direito a propriedade, os ritos dos enamorados (a espera, a inacessibilidade da noiva, a cortesia do noivo, a intimidade) aparecem muito claramente no conto dos Grimms e que apontam para os ideais burgueses que então se organizavam.
Do ponto de vista da linguagem literária, o conto apresenta traços estruturantes da linguagem oral, a exemplo da repetição (p. 01) “Assim, no lusco-fusco do entardecer”/”Então, no lusco-fusco do entardecer”. A repetição na narrativa além de referir-se a uma marca da oralidade, apontando para a sua fonte, cumpre uma função importante na manutenção da audiência por parte do narrador oral e este recurso narrativo está relacionado à condução do tempo, já que as ações se passam em momentos distintos da narrativa. A repetição antecipa também a sua ruptura, mas não diz o momento, o que ajuda a manter a adesão do ouvinte. Na narrativa escrita, a repetição se manteve com o mesmo propósito, mas não possui o mesmo efeito quando aplicada na narrativa oral que exige, em razão da dispersão ser maior do que a narrativa escrita que materializa a linguagem, maior atenção. A manutenção do mistério sustenta-se pela repetição, tanto é que na segunda repetição no conto, a feiticeira flagra o roubo, provocando uma tensão no ouvinte/leitor.
A repetição ocorre também nas idas da feiticeira à torre e também do príncipe, o que mostra a importância desse elemento estratégico na narrativa, isto é, na manutenção do imaginário, da fantasia, dando-nos a ideia também de um movimento cíclico, quando um ponto de partida coincide com o ponto de chegada, neste caso, o ponto de partida é estruturante e corresponde a casa e, por extensão, à família, muito embora isto não apareça explicitamente quando se trata do príncipe. No conto, ele parte da floresta, mas subtende-se que antes ele havia saído do castelo e é para lá que os dois retornam. A jovem virginal é resgatada de sua barreira de proteção para formar uma família com o príncipe com quem passa a morar. Neste aspecto, a identidade dela passa a ser a dele.
No filme Enrolados, a inversão não representa, a meu ver, uma mudança substancial, ela é aparente e uma grande cilada discursiva. Ela pode sugerir uma certa mudança, mas não é estruturante, o que põe em dúvida um discurso emancipatório da mulher porque essa emancipação é muito negociada, complexa e tensa nas práticas sociais. Se a ordem dos fatores não alterasse o produto, poderíamos cogitar que a inversão resolvesse, mas como na vida social e nas relações humanas a exatidão matemática não  funciona, essa proporção equilibrada entre os gêneros, entre os papéis de homens e mulheres não podem ser resolvidas com uma simples inversão porque a emancipação da mulher não implica na subordinação do homem. Esta assimetria de gênero pode ser exemplificada da seguinte maneira: quando mulheres e homens vivenciam a mesma experiência não geram o mesmo sentido, não são tratados da mesma forma pela sociedade. Uma mulher e um homem em um bar, sozinhos, à noite, tomando uma cerveja (mesas separadas), por exemplo, não geram o mesmo sentido para a sociedade. Sendo assim, deslocar os sujeitos como se fossem neutros, idênticos, pode reforçar mais ainda a assimetria.
Na narrativa fílmica, ao trazer o envolvimento amoroso entre um homem pobre e uma mulher rica, pode-se estar reforçando a ideia de que o amor para a mulher é indispensável, como se fizesse parte de sua natureza, de sua feminilidade, deixando ao mesmo tempo a ideia de que não importa a condição da mulher, pois ela precisará sempre de um amor, materializado na figura de um homem. Em outras palavras: a independência financeira não é tudo, mas o amor deve ser essencial, gratuito, sem interesses... para a mulher.  José Bezerra, o personagem masculino, ascende socialmente pelo casamento, mas o seu gesto é esmaecido pelo amor. Durante toda a narrativa paira o interesse dele pelo poder material que vem dela (tiara, o cabelo, o castelo), incutido pela madrasta e por ele mesmo, mas afastado do espectador para que se cumpra o ideário burguês de que o casamento não deve ser por interesse, mas por amor. Os homens amam, principalmente quando precisam ascender socialmente pelo casamento.  Aurélia Camargo que o diga.

TEXTO RAPUNZEL DIGITALIZADO

Encontra-se já com as monitoras o conto digitalizado Rapunzel lido em sala de aula.
Leiam com atenção a narrativa e tentem pensar nos seguintes aspectos abaixo:

1. Qual a relação entre os contos e a construção do sentimento nacionalista?
2. Qual a relação entre os contos e os valores da classe burguesa?
3. Por que a cultura popular foi considerada importante para os países periféricos?
4. Por que os países centrais resistiam à cultura popular? Qual a influência dos ideias renascentistas e iluministas neste processo de resistência?
5. De que forma o conto Rapunzel, versão dos Grimm, representa uma classe emergente? Quais os valores contidos no conto e que são mantidos até hoje nas retextualizações? 

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

RAPUNZEL, PETROSINELLA E PERSINETTE

Durante as nossas aulas sobre as origens da literatura infantil temos visto o quão é difícil datar e circunscrever o lugar e o tempo em que as narrativas populares "nascem", porque elas, em razão da oralidade, fazem parte do imaginário das pessoas de diferentes regiões, antes das nações-estados demarcarem as terras geopolíticamente e partissem em busca do acervo cultural do seu território, ou pelo menos reivindicado como seu, no qual se incluia a literatura, tendo como fonte as histórias narradas na língua vernácula.
Rapunzel é uma dessas histórias populares cuja palavra significa alface de cordeiro, um tipo de alface com folhas miúdas, mas que no conto é dado à filha porque a sua mãe desejava muito comer alfaces quando grávida. A história de Rapunzel não “nasce” com os Whillem e Jacob Grimm, mas ela circula no imaginário popular um século antes dos dois irmãos alemães contarem a sua versão. Na Itália, em 1637, Giambattista Basile escreveu Petrosinella nome derivado de “petrosine” de “parsley” que significa salsa, uma hortaliça.
Em 1697, Charlotte Rose de Caumont de la Force, uma aristocrata francesa, escreveu Persinette uma versão muito parecida com Rapunzel e Petrosinella, mostrando que as narrativas orais eram contadas e recontadas e que neste processo elas iam sofrendo alterações. Persinette foi traduzido para o alemão várias vezes, sendo que em uma das versões, a deJ. C. F. Schulz, ocorreu a troca do nome Persinette por Rapunzel, considerado assim o texto-base sobre o qual os Grimm escreveram a sua versão.
São visíveis as aproximações entre as narrativas. No conto de Basile, por exemplo, não há a presença do marido, mas apenas da esposa grávida que pula a janela para roubar as salsas e uma ogra (traduzida em outras versões como feiticeira, bruxa, madrasta) que cultiva as hortaliças.
Com tudo isso, vemos o quão é inútil buscar por uma origem, na medida em que a sua importância só é vista em um contexto histórico a partir da modernidade, quando as nações vão se preocupar com a unidade interna e irão precisar mapear as produções culturais do povo a fim de uni-lo dentro de um corpo sociocultural e geopolítico, elegendo símbolos que possam gerar nos membros de uma comunidade imaginada, para citar Benedict Anderson, o sentido de pertencimento, identidade e unidade.
Essas referências intertextuais mostram a riqueza cultural planetária com um imaginário comum, mas fragmentado em nome do poder, da cobiça, dos desejos de dominação. Não podemos assegurar que os contos de fada pertencem a determinado país, na medida em que vários países trazem em seu acervo literário o mesmo conto com pequenas alterações. No máximo podemos falar em versões.

Atividade 1

13) Qual a relação entre a literatura infantil e a construção da nação?

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ADOLESCÊNCIA - JORNAL A TARDE

Segue abaixo a matéria publicada no jornal A Tarde no dia 01 de dezembro de 2011 sobre a adolescência.

Aumenta número de adolescentes chefes de família
Juliana Dias
Erik Salles / Agência A TARDE

Lucas Bahia vende balas nos ônibus da capital; Robson Carlos concilia o trabalho de assistente administrativo e recepcionista; Renata da Cruz é babá de um recém-nascido, e Erasmo Batista exerce a função de ajudante de mecânico. Os trabalhos descritos acima condizem com a realidade de milhares de brasileiros, mas a condição social desses adolescentes os tornam, precocemente, as principais fontes de sustento da casa.
A troca de papéis, que transforma meninos e meninas entre 10 e 19 anos em chefes de família, é uma realidade em 793 mil domicílios, segundo dados preliminares do Censo 2010. A responsabilidade assumida, incompatível com as idades desses brasileiros em início de vida, é uma das quatro preocupações – e que devem ter atenção especial – listadas pelo relatório Situação da Adolescência Brasileira 2011 – O direito de ser adolescente: oportunidade para reduzir vulnerabilidades e superar desigualdades, lançado nesta quarta, 30, pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A partir da evolução de dez indicadores (2004 a 2009), a publicação apresenta nove vulnerabilidades (veja em texto abaixo e na página ao lado) às quais os 21 milhões de adolescentes entre 12 e 17 anos (11% da população) estão expostos, além das quatro desigualdades que aprofundam os fatores que afetam o desenvolvimento: cor da pele, gênero, deficiência e contexto da moradia.
Histórias de vida - Dentre as vulnerabilidades trazidas pelo relatório que impactam na vida dos adolescentes, está a privação da convivência familiar e comunitária, abrangendo a condição de serem chefes de família. O baleiro Lucas Bahia, 17, há cinco meses não vive mais com os pais, e agora sustenta a casa em que mora com a namorada de 16 anos. A venda nos ônibus é a renda do casal, que daqui há três meses ganhará um filho. O rapaz vive na casa dada pela mãe e cursa o 1º ano do ensino médio. Lucas, que diz ter renda mensal “em torno de  R$ 900”, sonha em abrir o próprio negócio: “Uma bomboniere”.
Robson, 17, trabalha informalmente em dois estabelecimentos para manter a casa em que vive sozinho e ajudar nas despesas da mãe. “Dá para fazer de tudo um pouco, mas às vezes atrapalha, principalmente com as horas de lazer”, ele avalia.
Erasmo, 18, desde os 14 trabalha em uma oficina para ajudar em casa, e Renata, 16, teve que abandonar um curso profissionalizante para ser babá e pagar as contas.
“Essas funções vão fazer com que eles percam a fase da adolescência. Isso impacta, por exemplo, nos estudos”, preocupa-se a oficial de monitoramento e avaliação do Unicef, Cláudia Fernandes.
A legislação brasileira permite o trabalho antes dos 14 anos na modalidade de aprendizagem. Após os 14, além de aprendiz, o adolescente pode ser empregado, autônomo ou estagiário, mas só em atividades não degradantes e adequadas à faixa etária