domingo, 28 de agosto de 2011

RESULTADO MONITORIA DE ENSINO - 2011.2


A documentação da aluna Estela Santos de Oliveira foi entregue incompleta pelo NETI à professora. A candidata apresentou no dia da entrevista à professora Lúcia Leiro, no entanto, observando as regras da candidatura à monitoria, o(a) candidato(a) deve apresentar a documentação completa ao setor responsável, resolvendo as pendências apenas junto a este setor  que, por sua vez, deve apresentar o material para o professor realizar os procedimentos da seleção. Em razão disso, a aluna foi desclassificada.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CHAMADAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS

Chamada: Bakhtiniana 7 - a ser publicada em junho de 2012
Tema: LINGUAGENS E ENSINO: PERSPECTIVA DIALÓGICA

Numa pedagogia dialógica da gramática, a estilística tem papel fundamental.
Bakhtin corrobora essa afirmação, exemplificando detalhadamente o sério trabalho do professor com sua própria experiência, a fim de “oferecer ao aluno uma orientação flexível e cuidadosa, que facilite o processo de nascimento da linguagem escrita individual”, uma “linguagem próxima da oral, viva e expressiva, a linguagem da vida real”. Bakhtin educador/professor.
Eis uma faceta do filósofo com a qual estamos menos familiarizados. Neste número 7, cujo tema é Linguagens e ensino: perspectiva dialógica, Bakhtiniana convida pesquisadores da  linguística, da linguística aplicada e da linguagem em geral a apresentarem suas reflexões e experiências a respeito das contribuições dos estudos bakhtinianos à educação.Os artigos aprovados serão reenviados aos autores
para que providenciem a versão em inglês. A partir do número 7, a Bakhtiniana será bilíngue.

Prazo limite para entrega dos originais: 29 de fevereiro de 2012.

Chamada: Bakhtiniana 8 - a ser publicada em novembro de 2012
Tema: BAKHTIN E O CÍRCULO: DIÁLOGOS COM A FILOSOFIA E AS CIÊNCIAS HUMANAS EM GERAL

As pesquisas no âmbito do discurso transcorrem em campos limítrofes, já afirmava Bakhtin no conhecido ensaio O problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas. Disciplinas do texto, a filosofia e as demais ciências humanas têm sido objeto dos estudos discursivos. Neste número de Bakhtiniana, o tema Bakhtin e o Círculo: diálogos com a filosofia e as ciências humanas em geral visa à reunião de reflexões e experiências de pesquisadores da linguística, da linguística aplicada e da linguagem em geral, a respeito das contribuições dos estudos bakhtinianos à compreensão dessas disciplinas.Os artigos aprovados para este número serão reenviados aos autores para que providenciem a versão em inglês. Desde o número 7, Bakhtiniana é bilíngue.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O AMOR ROMÂNTICO

Hoje na aula, no debate sobre o filme de animação Enrolados,  discutimos o amor romântico como constructo de uma classe social - a burguesa - e que o seu veículo massificador - o romance - seria responsável pela disseminação da ideologia no ocidente. O mito do amor romântico, isto é, da narrativa focada na realização amorosa dos amantes, tinha como um dos mitologemas a diferença e assimetria de gênero condição sine qua non para os amantes, paradoxalmente, alcançar a unidade, a fusão. Obviamente que essa fusão tinha uma inscrição ideológica, na medida em que o "desaparecimento gradativo de uma imagem, simultâneo com o aparecimento de outra" (Houaiss, 2009) deixava a questão: que imagem desapareceria e qual aparecia no lugar? 

O amor, da forma que conhecemos, é um legado de duzentos anos, muito embora a sua raiz esteja antes mesmo disso, como afirma R. Howard Bloch, em seu livro Misoginia Medieval e a Invenção do Amor Romântico Ocidental (editora 34). Citando São Tomás de Aquino, Aristóteles, Fenelon e outros, o autor traça o caminho do amor romântico até ser modernizado pelos romances, pelos folhetins repletos de mulheres altruístas, lacrimosas, despossuídas de qualquer individualidade e baluartes de uma moral inabalável (as que se opunham a isso eram condenadas à marginalidade). Os homens serão representados como detentores de uma energia vigorosa, prontos para prover e disputar a mulher cobiçada como troféu a ser exibido para a sociedade. Contudo, esse sentido é escamoteado pelo discurso do amor, este, sim, mostrado como a única razão pela qual os amantes correm riscos, se expõem. A união dos amantes é muito mais a representação da vitória de um discurso de uma classe. Não há nada mais burguês do que o amor romântico.

Isso não quer dizer que o amor não exista, mas significa dizer que o que se sente é uma construção gerada pelas ideias e valores de uma classe, um discurso veiculado pelas linguagens. A música, o filme, o romance, a peça publicitária, as telenovelas respiram o amor romântico. Como não ser o seu porta-voz, já que na "torre" de onde saímos não tivemos contato com outras formas de lidarmos com o Outro? Pensemos em outras maneiras de união conjugal que não movida pelo "amor". Como nós a vemos? Observe que se uma mulher se une por outras razões que não pelo amor e vice-versa, os membros da sociedade confere a essa união uma negatividade porque não movida pelo gesto nobre, mas quem diz isso de fato? A que memória discursiva estamos evocando? Será que a relação pautada no amor não é movida por interesses e que o amor é lembrado para escamotear essa razão?

Para ampliar a leitura, sugiro além do livro mencionado acima, outros títulos como A Arte de Amar, de Ovídio, e Do Amor, de Stendhal.

domingo, 21 de agosto de 2011

GPCLE- Grupo de Pesquisa sobre Cinema, Literatura e Educação

O GPCLE é um grupo de pesquisa sobre cinema, literatura e educação associado ao Grupo Cinema e Audiovisual do Diretório do CNPq. Além desse grupo, o diretório também está prestes a aprovar o grupo Literatura e Educação.

O propósito é estudar o cinema e a literatura como espaço informal de educação (o cinema), assim como recurso, estratégia nos espaços formais (escola). Analisamos textos teóricos, exibimos filmes e lemos narrativas literárias destinadas ao público infanto-juvenil.

Os alunos interessados em conhecer mais sobre o grupo ou fazer parte dele deve entrar em contato com a prof.a Lúcia Leiro pelo e-mail gpcle@googlegroupos.com.

Os nossos encontros com todos os alunos acontecem aos sábados, quinzenalmente, e os individuais também duas vezes ao mês, no meio da semana com horário a combinar com o aluno.

sábado, 20 de agosto de 2011

MONITORIA - SELEÇÃO

Aos(Às) candidatos(as)

Na sexta-feira, dia 26/08, realizaremos a seleção para monitoria de ensino da disciplina Literatura e Educação.

8h: entrevista (pontualmente)
10h: avaliação escrita (1h30min)
11h30: encerramento (pontualmente)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ATIVIDADE - 15/08

Concluiremos as avaliações dos vídeos e das narrativas amanhã. Estejam todas(os) presentes para participar desse processo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Os programas infantis exibidos pela Rede Globo nos anos 80: um breve estudo sobre Vinicius para Criança, A Arca de Noé, Arcar de Noé II, Pirlimpimpim e Plunct, Plact, Zum.

documento emitido pela policia federal
            A televisão foi uma tecnologia inventada nos anos 50, marcando profundamente uma geração de leitores que, a partir deste momento, teria outra maneira de construir a significação, agora associando os textos linguísticos aos visuais, experiência que o cinema até então era absoluto. O rádio, uma invenção dos anos 30, cumpria a função de levar as residências a informação e o entretenimento. O cinema, no entanto, que antecede o rádio era um meio que articulava som, imagem e movimento, mas não tinha a mesma inserção, já que para ter acesso ao texto exibido era necessário o deslocamento do espectador de suas casas até as salas de exibição. A televisão, assim como o rádio, seria um meio doméstico que mudaria a rotina das famílias.  Um espaço de destaque na sala era dedicado a televisão e a família passaria a se encontrar apenas para render-lhe a atenção devida. Apesar de ter sido produzida nos anos 50, apenas nos anos 70 a televisão passaria para as camadas mais populares, na versão preta e branca, muitas vezes adquirida de segunda mão, dada a dificuldade de acesso das massas ao meio que se tornaria o mais popular do século.
Capa do LP com as músicas do especial
            No Brasil, a Rede Globo de Televisão começa a produzir seus primeiros programas em 1965 sob o regime ditadura militar. Durante esse período, a cada início de programa, a imagem de um documento emitido pela Polícia Federal , aparecia na tela informando que tinha sido autorizado para ser transmitido naquele horário para uma determinada idade.
            Os programas infantis sempre estiveram presentes na emissora desde a sua implantação. Somente em 1965, quatro programas foram lançados: Zás Trás, Capitão Furacão, Uni, Duni Te e o Mundo Mágico de Alakazan.  Durante os anos seguintes, a quantidade oscilava chegando muitas vezes a não exibição, como ocorre em 1967,1968, 1976, 1978, 1979, 1988, 2009 e 2010, conforme o site da Rede Globo.
Baby Consuelo performatiza Emília
            Os programas infantis nem sempre conseguiam se libertar do pedagogismo, mas em alguns momentos raros, os musicais infantis cumpriram aquilo que os críticos literários consideram fundamental no processo de leitura: a literatura enquanto possibilidades, sugestões, desenvolvimento cognitivo, e menos como uma mensagem de cunho moral a ser seguida. A exemplo, podemos citar os especiais da Rede Globo dos anos 80, como Vinicius para Criança: A Arca de Noé, Arca de Noé II, Pirlimpimpim  e Plunt, Plact Zum.
            O primeiro e o segundo programas reuniam alguns poemas infantis[1] do poeta carioca Vinicius que eram musicados por ele e Toquinho, além de outros colaboradores, e que eram performatizados no programa de televisão por artistas da época de grande popularidade (Boca Livre, Moraes Moreira, Fagner, Fábio Junior, as Frenéticas, Alceu Valença, Elba Ramalho, Marina, Bebel Gilberto, Clara Nunes, Chico Buarque, Milton Nascimento, entre outros). Um momento em que a literatura, a música e a imagem em movimento se encontravam em um dispositivo popular para compor um gênero que ficaria muito conhecido: os musicais infantis para televisão.  Diferentemente de outros programas infantis, os que foram produzidos nos anos 80 teriam muito mais uma função estética do que pedagógica, já que trazia elementos lúdicos, simbólicos, que sugeriam e povoavam a imaginação e não necessariamente ensinavam regras de comportamento ou de conduta moral. Um dos exemplos é o poema “A Casa” apresentado no programa Arca de Noé, com a interpretação do grupo Boca Livre:

A Casa
Composição: Vinicius de Moraes

Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
na rua dos bobos numero zero

Zilka Salaberry e Jacyra Sampaio interpretam
D. Benta e Tia Anastácia
            O poema cumpre o papel lúdico de apresentar o signo CASA, a partir do título, para em seguida decompô-la, relacionando as suas partes à sua função (talvez aqui haja levemente um sentido pedagógico, mas não é predominante). O poema brinca com o fazer e o desfazer, com a montagem e a desmontagem, tão ao gosto da atividade criadora – metáfora da própria escrita e da mente aberta e inovativa da criança - da descoberta das coisas, das palavras. A Casa do poema só é possível no plano literário, é uma construção da palavra e é por meio dela e de seu manejo que a criança interage com o mundo. O poema é um convite à liberdade criadora, onde o que está posto, construído, é desconstruído na própria palavra e na relação com as coisas. Ao ser selecionado para um programa de TV, insere a literatura e a música no universo midiático televisivo e de amplo alcance.
            Já o programa Pirlimpimpim trazia as personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, numa versão musical para a televisão da obra lobatiana. Iniciava com uma narrativa da atriz Zilka Salaberry que ficou conhecida como a Dona Benta, presente desde a primeira versão de 1977:

“Era uma vez um homem que contava histórias, falando das maravilhas do mundo encantado, que só as crianças podiam ver. Mas esse homem que falava às crianças conseguiu escrever tão bem essas maravilhas que fez todas as pessoas acreditarem nelas. Pelo menos as pessoas cresceram por fora, mas continuavam sendo crianças em seus corações. Ele aprendeu tudo isso com a natureza em lugares como esse Sítio (onde ele viveu). Há quem diga, que foi aqui que ele descobriu todas as maravilhas que levou para os livros, Há quem diga, que elas ainda moram aqui, entre as paredes dessa casa, há quem diga, que quem entrar aqui, poderá talvez encontrar um por um todos os sonhos, encantos e maravilhas, junto a saudade, a grande saudade que ela guarda, de um grande homem que soube falar de crianças”

Guto Graça Melo, Baby Consuelo, Morais Moreira e
Bebel Gilberto cantam Lindo Balão Azul, de Guilherme
Arantes
            Assim, na voz acalentadora e acolhedora daquela que encarnaria a avó de muitas gerações, a literatura de Monteiro Lobato era reinscrita em um suporte que talvez nem o próprio Lobato imaginaria, no qual as suas personagens teriam voz, se movimentariam em cenários naturais e construídos e, por fim, seriam conhecidos por crianças e adolescentes de várias regiões do país, como ele queria que fosse. Os artistas convidados para o programa eram, em geral, os compositores das letras e músicas. Assim, Saci Pererê, de autoria de Jorge BenJor,  foi performatizado pelo cantor que apareceu vestido de Saci; Emília, a boneca gente, Baby Consuelo, música e letra compostas por Baby Consuelo e por Pepeu Gomes, foi performatizada por Baby Consuelo que aparecia vestida de boneca, tal como ficou conhecida pelos episódios do programa Sítio do Pica Pau Amarelo; a composição Sítio do Pica Pau Amarelo, de Gilberto Gil; Pirlimpimpim, de Moraes Moreira e Fausto Nilo e Festa Animada, de Dona Ivone Lara, também comporiam o programa. Das composições do programa, Lindo Balão Azul, de Guilherme Arantes, performarizada por Moraes Moreira, Baby Consuelo, Ricardo Graça Melo e Bebel Gilberto, recebe merecido destaque:

Lindo Balão Azul
Composição: Guilherme Arantes

Eu vivo sempre
No mundo da lua
Porque sou um cientista
O meu papo é futurista
É lunático...

Eu vivo sempre
No mundo da lua
Tenho alma de artista
Sou um gênio sonhador
E romântico...

Eu vivo sempre
No mundo da lua
Porque sou aventureiro
Desde o meu primeiro passo
Pro infinito...

Eu vivo sempre
No mundo da lua
Porque sou inteligente
Se você quer vir com a gente
Venha que será um barato...

Pegar carona
Nessa cauda de comêta
Ver a Via Láctea
Estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde
Numa nebulosa
Voltar prá casa
Nosso lindo balão azul...(3x)

Nosso lindo balão azul
Oh! Oh! Oh! Oh!...(2x)
Nosso lindo balão azul
Uh! Uh! Uh! Uh!...

            O refrão Pegar carona/Nessa cauda de cometa/Ver a Via Láctea/Estrada tão bonita/Brincar de esconde-esconde/Numa nebulosa/Voltar prá casa/Nosso lindo balão azul tem forte apelo sinestésico, sugestivo e altamente figurativo confere aos versos do refrão um dos mais emocionantes e imaginativos. Segundo Maria José Palo e Maria Rosa Oliveira

as figuras (...) mais que representar, desejam presentar pos objetos pertencentes a realidades de outra ordem: aquelas das formas possíveis, cuja existência se deve ao fato de poderem ser imagináveis, independente de conformação da experiência e da razão.”(2006, p.37)

            Os versos associados a uma música de compasso ritmado e alegre contribuem para uma significação que reforça o caráter lúdico, mágico e que, acrescido dos elementos visuais da televisão, favorece a catarse da criança, já que as personagens, embora vestidas com roupas pouco usuais, acabam conduzindo a criança a um processo de identificação por relação de similitude de uma “composição verossímil” (PALO;OLIVEIRA, 2006, p.22), uma vez que são todas humanas. Por outro lado, ao mesmo tempo em que a televisão favorece a relação de transferência entre espectador e o objeto representado, os elementos que estão ali presentes rompe com a estrutura que sustentou as bases da literatura infantil e que Vladimir Propp elencou como sendo estruturantes das narrativas destinadas às crianças. Uma delas a centralidade em um herói. Na música Lindo Balão Azul, podemos identificar a existência de quatro personagens que interagem numa relação equitativa, fissurando o modelo proppiano, já presente na obra de Monteiro Lobato. É Lobato que apresenta as personagens do Sítio desempenhando papéis importantes, cada um em um espaço diferente.
Zé Rodrix na Ilha da Higiene
            O terceiro programa, Plunct Plact Zum, já trazia letras mais engajadas politicamente. O Carimbador Maluco, de Raul Seixas, Planeta Doce, de Jô Soares e Ilha da Higiene, de Zé Rodrix e Use a Imaginação, com Zé Vasconcelos e elenco de crianças, fazem referências críticas à sociedade autoritária, proibitiva, ordenada, disciplinada, seja na esfera mais ampla, a exemplo da situação econômica, seja na mais restrita, a exemplo da família. Nos versos Aqui nada é amargo/ nem os preços são salgados/ Com qualquer moedinha você compra um bom bocado/A vida é um brinquedo e você pode ser levado/Que ganha sobremesa mesmo sem ter estudado” são claras as referências à inflação que nos anos 80 deu um salto de 54, 9%, no início da década, para 1.157,6%, nos seus últimos anos. A crise que o país passava era traduzido nos altos preços da gasolina e na violencia policial, ainda resquícios da ditadura, diante do empobrecimento da população e das práticas ilícitas fruto da grande recessão que assolava o Brasil: “Gasolina é guaraná jorra em qualquer lugar/Polícia é brigadeiro e é sempre um bom companheiro/O Sol é um quindim e brilha doce até o fim/Nuvens de algodão doce, pirulitos no jardim.” No mundo mágico do planeta doce, a realidade ficcional (doce) se opõe a realidade social (amarga) e, ainda que não seja predominantemente pedagógica, a letra traz elementos de crítica a situação social, o que não deixa de ser um gesto educativo, pedagógico, de formação de leitor, crítico, ainda que velado no meio de tantas guloseimas.  No refrão da música, “Oh! não, não tenha medo, não há perigo aqui” ganha um sentido político tendo em vista o contexto social e histórico da época, em que o país saía de uma situação de medo, diante de tantas torturas e perseguições. A composição O Carimbador Maluco, de Raul Seixas, faz referência à censura, figurativizada pela figura de um carimbador, portanto alguém que autoriza ou não o direito de ir e vir, sendo que de performance meio clown do cantor baiano, que desconstrói a imagem do funcionário disciplinador e censurador e o transforma em uma figura humorada, debochada que revela o seu interesse em fazer parte da viagem, com as crianças, para fora do espaço da ordem, para a do encantamento, isto é, a sisudez rende-se ao espírito lúdico e revolucionário do riso. Com os versos: “tem que ser selado, registrado, carimbado/Avaliado, rotulado se quiser voar!/” enuncia-se a voz de um sujeito autoritário, reforçado pela performance do cantor que ao fazer o gesto com as mãos, simulando a carimbada, o faz de forma agressiva. A passagem da atitude agressiva para a pacífica se dá nos versos seguintes quando a postura do carimbador muda de autoritário, para um sujeito compreensivo, materializada pela entonação da voz do cantor e da desaceleração do ritmo: “Mas ora, vejam só, já estou gostando de vocês/Aventura como essa eu nunca experimentei!/O que eu queria mesmo era ir com vocês/Mas já que eu não posso:/Boa viagem, até outra vez.” Por esta passagem, a mudança de atmosfera na música reflete o esforço no plano real em transformar os anos 80 em uma década de reconstrução da democracia, depois do recrudescimento vivido pela ditadura militar. Vale ressalta que a capa vestida por Raul Seixas contém as seguintes palavras – SOS,  Censura, Perigo –  aludindo ao estado de medo e de opressão dos anos vividos sob a égide da censura política. Na música de Zé Rodrix, a referência agora é feita ao espaço familiar, na relação autoritária dos pais com os filhos, extensão das relações impositivas exercidas pelas práticas políticas dos anos que antecederam. Os versos “Nem bem o sol entrou pela janela/Nem bem você acordou/Começa o papo da mãe tagarela/E do papai ditador” mostra a linguagem, a palavra como espaço das produções das normas sociais, fazendo uso do modo imperativo para regular os comportamentos.  A resposta é dada nos versos que seguem: “Não é com discurso, força e autoridade/Que eles vão poder nos convencer/As crianças sabem muito bem que andar limpinho/É tão bom, podes crer...”. Nestes versos, do estado de dependência, a criança passa a de sujeito, consciente da importância da higiene, o que remete ao caráter pedagógico da composição. A idéia de discurso, aliado a força e autoridade, difere do sentido de discurso que usamos enquanto dispositivo analítico. Nos versos, discurso significa a fala dos pais repleta de comandos e proibições,  contrapondo-se a idéia de diálogo que seria usada pelos pais das gerações vindouras. De fato, os musicais dos anos 80, principalmente o Pirlimpimpim, estão permeados de um movimento de politização da criança por meio de composições que misturam encanto, magia e figurativização aliado aos recursos do meio audiovisuais da televisão, formando um tecido que poderia servir tanto à criança quanto ao adulto. O texto infantil, por trazer imensa carga simbólica, facilita o uso de alegorias, driblando qualquer possível resquício proibitivo, atendendo a situação de formar um público crítico.
            O que eu considero contributivo para o acervo de conhecimento produzido pela pesquisa, é que os programas infantis dos anos 80 exibidos pela Rede Globo de Televisão tinham pouco ranço pedagógico ou se tinha era muito sugestivo, seguindo também o que a literatura infantil estava produzindo, distanciando-se do modelo de Propp e assegurando uma postura em que a criança aparece mais como sujeitos.


[1] O livro A Arca de Noé foi publicado em 1970. Eram trinta e dois poemas-fábulas, quase todos com animais falantes, personificados.


sábado, 13 de agosto de 2011

Apresentação do Colóquio, por João Carlos Salles (FFCH-UFBA).

Cnferência de abertura por Carlos Alberto Ribeiro de Moura (USP), "Merleau-Ponty leitor dos clássicos".

Palestras

o “Ética a Nicômaco, de Aristóteles”, por Juliana Ortegosa Aggio (15/08, às 14:00hs).
o “Suma teológica, de Tomás de Aquino”, por Marco Aurélio Oliveira da Silva (15/08, às 15:30hs).
o “Tratado dos Princípios do Conhecimento Humano, de Berkeley”, por Cláudia Bacelar Batista (16/08, às 9:00hs).
o “Júlia ou A Nova Heloísa, de Rousseau”, por Genildo Ferreira da Silva (16/08, às 10:30hs).
o “Teses sobre Feuerbach, de Marx”, por José Crisóstomo de Souza (16/08, às 14:00hs).
o “O capital, de Marx”, por Mauro Castelo Branco de Moura (16/08, às 15:30hs).
o “Ecce homo, de Nietzsche”, por André Itaparica (17/08, às 9:00hs).
o “Assim falou Zaratustra, de Nietzsche”, por Paulo César de Souza (17/08, às 10:30hs).
o “A interpretação dos sonhos, de Freud”, por Marcus do Rio Teixeira (17/08, às 14:00hs).
o “O mal-estar na civilização, de Freud”, por Denise Coutinho (17/08, às 15:30hs).
o “Ciência e política: Duas vocações, de Weber”, por Paulo Fábio Dantas Neto (18/08, às 9:00hs).
o “O normal e o patológico, de Canguilhem”, por Naomar Monteiro de Almeida Filho (18/08, às 10:30hs).
o “Análise e metafísica, de Strawson”, por Waldomiro José da Silva Filho (18/08, às 14:00hs).
o “A imagem científica, de van Fraassen”, por Charbel El-Hani (18/08, às 15:30hs).
o “Introdução ao pensamento futuro, de Axelos”, por Nancy Mangabeira Unger (19/08, às 9:00hs).
o “A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Weber”, por Graça Druck (19/08, às 10:30hs).
o “A arqueologia do saber, de Foucault”, por Ricardo Calheiros Pereira (19/08, às 14:00hs).
o “Estâncias, de Agamben”, por Lourenço Leite (19/08, às 15:30hs).
Inscrições e informações: de 04 de julho a 15 de agosto de 2011, das 8:30 às 12:30hs, na Secretaria da FFCH, em São Lázaro. Tel. 3283.6431.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

PREQUETÉS, de Ana Maria Machado

O texto é uma livre adaptação da obra de Ana Maria Machado e conta a história de uma menina que não gosta de cumprir regras porque acredita que elas são inúteis, até ser levada pela sua imaginação ao País dos Prequetés, um lugar onde as regras não existem.
Ao misturar realidade e fantasia a peça procura se aproximar do universo das crianças sem subestimar sua inteligência e capacidade de resolver problemas . De uma maneira inteligente e divertida o texto provoca a reflexão sobre o conceito de autoridade e convívio social.

A Autora

Ana Maria Machado é autora de mais de cem histórias para crianças e jovens, pelos quais recebeu, em 2000, o Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o NOBEL da literatura infanto-juvenil. Em 2001, a Academia Brasileira de Letras lhe conferiu o maior prêmio literário nacional, o Machado de Assis, também pelo conjunto de sua obra.
Em 1979, a peça No País dos Prequetés foi encenada no Rio, com Sonia Braga no papel de Nita. Numa época em que ainda não era fácil nem comum tratar de assuntos dessa natureza. Só mesmo uma figura alegre e corajosa como Nita para fazer o que ela fazia naqueles tempos!
Em Salvador a adaptação de Heraldo Souza com a Cabriola Cia de Teatro, tem Mariana Damásio no papel de Nita e conquistou o Prêmio Breaskem de Teatro 2009 na categoria “Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil de 2008”, além de mais outras premiações.

Os Prequetés - Diminuto
Onde: Teatro da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, Praça Almeida Couto, s/n, Nazaré
Quando: Dias 14, 21 e 28 de agosto, às 15h
Quanto: Gratuito
Informações: 71 3117-1433
 

terça-feira, 9 de agosto de 2011

SIMPÓSIO INTERNACIONAL LITERATURA, CULTURA E SOCIEDADE da UFV

Período: 08, 09 e 10 de novembro de 2011
Local: Viçosa, MG.
Informações e inscrições: http://www.literaturaufv.com.br/
Temas para apresentação de trabalhos:

- Literatura e outros campos de conhecimento;
- Estudos de Literatura Comparada e de Crítica da Cultura;
- Literatura e Estudos de Gênero;
- Leitura e ensino de literatura;
- Literatura, Memória e História;
- O imaginário mítico;
- O Pós-colonialismo na Literatura;
- Margens e fronteiras do literário.

Conferencistas:

Prof. Dr. Carlos Reis (Universidade de Coimbra)
Profa. Dra. Orna Messer Levin (UNICAMP)
Profa. Dra. Ângela Beatriz Carvalho de Faria (UFRJ)
Profa. Dra. Ivete Walty – (PUC Minas)
Profa. Dra. Márcia Marques Morais (PUC Minas)
Profa. Dra. Lyslei Nascimento (UFMG)
Prof. Dr. Leonardo Mendes (UERJ)
Profa. Dra. Solange Yokozawa (UFG)
Prof. Dr. José Luiz Foureaux (UFOP)
Prof. Dr. Luis Maffei (UFF)

Promoção:
Universidade Federal de Viçosa
Departamento de Letras
Programa de Pós-Graduação em Letras – Área de Estudos Literários
Telefone: 031 3899-1583
Apoio:

FUNARBE – FUNDAÇÃO ARTUR BERNARDES DA UFV
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE LETRAS - UFV
CAPES
FAPEMIG
Coordenação:

Prof. Gerson Roani – UFV
Prof. Felipe dos Santos Matias – UFV
Prof. Rodrigo Machado – PPGLETRAS-UFV
Prof. Renato Dering – PPGLETRAS-UFV

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

I Seminário Multidisciplinar em Educação - IFBA - Catu-BA


O Grupo de Pesquisa Multidisciplinar em Educação Profissional (GPMEP), cadastrado no diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) realizará o I Seminário Multidisciplinar em Educação (SEMMEDUC) nos dias 20/09 a 22/09, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano – Campus Catu.
(71) 3641-7900
Informações no site: http://semmeduc.webnode.com.br/
Inscrições para comunicação oral até 21/08
Participação de nomes como Cipriano Luckesi e Edivaldo Boaventura.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

COMO SE ENSINA A SER MENINA


Com base no livro de Montserrat Moreno, "Como se Ensina a Ser Menina", da Editora Moderna, 1999, observei no livro didático Porta Aberta, FTD, o que se repete há anos, mesmo com os PCNs e as políticas públicas em educação para eliminar a assimetria e os estereótipos de gênero.

No texto acima, vejam que a representação da mulher, na figura de Dona Traça, está associada à afetividade - "preferido" e "adoro" - além de contar com o desenho do coração vermelho ao seu lado ratificando a ideia de amor, generosidade e bondade (a contradição é envolver tais sentimentos à destruição). Já a representação do homem, representado pelo vagalume, está associado ao conhecimento, à racionalidade, aquele que ilumina (ecos da visão da modernidade em que luz - daí iluminismo - significa(va) conhecimento e poder). No vagalume, a ausência de palavras que sugerem  relação afetiva, além do seu olhar distanciado para a lanterna, aventa a ideia de objetividade. Já a traça aparece mirando um dicionário que sorri para ela e a quem ela dirige um olhar apaixonado, com um coração a mostrar o seu sentimento.

Observe-se ainda que a traça e o vaga-lume não possuem o mesmo valor, já que a traça é vista negativamente, como destruidora, e o vaga-lume, positivamente, sem marcas de estrago, ao contrário, conduzirá o leitor ao brilho, à vitórias.

Deste modo, esta representação dos gêneros ajuda a sedimentar a naturalização da emoção, como atributo da mulher, e da razão, como atributo do homem.